segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

W.

W.:



Quem me lê desde o início deste blog (já lá vão dois anos!) e tem uma memória prodigiosa de certeza que se lembra de eu ter dito, em relação ao Michael Moore que gostava dos documentários do senhor, concordava com muita da sua ideologia mas que tinha pena que ele fosse tão pouco objectivo na forma como apresenta os factos e, sobretudo, como manipula as entrevistas.

O mesmo se passa, em menor escala, com o Oliver Stone neste filme. É de conhecimento geral que o realizador de Platoon, JFK ou South of the Border (um documentário que me recuso a ver, tal a minha discordância com o “tema”, falo de Hugo Chávez) é um esquerdista assumido e um crítico aceso do anterior Presidente dos EUA, George W. Bush. Também eu me considero de esquerda e também eu muitas vezes manifestei publicamente (entre o meu grupo de amigos, entenda-se) a minha insatisfação com um Presidente que não é meu mas afectou (e afecta) a forma como todos nós vivemos as nossas vidas. O problema aqui é que se tenta ridicularizar o homem e não tanto explorar a sua vida, pessoal e/ou política.

Alguns dirão (como se calhar eu diria se estivesse a ler e não a escrever) que é impossível não ridicularizar um anterior “homem mais poderoso do mundo” que dizia frases como “a maioria das nossas importações vêm do estrangeiro” e que acenou para cumprimentar o Stevie Wonder. É verdade que sim, ele presta-se a isso, mas um filme que se quer sério de um realizador com grande mérito deveria limitar o uso destes tais bushismos ou de momentos mais surreais da sua vida para a retratar.

É com isto que o filme se perde, porque caso contrário até poderia ser interessante. A história é apresentada em flashbacks e flashforwards entre a juventude do ex-Presidente (claro que tinha de ser um gajo das fraternidades!) e o seu papel na invasão do Iraque. Poderia, até, ser um interessante complemento ao Fair Game, sobre o qual escrevi há pouco tempo, por mostrar o outro lado do “campo de batalha” americano.

Seria interessante para mim, aprofundar sobretudo duas realidades, a primeira delas é uma frase dita pelo Bush pai (“Quem pensas que és? Um Kennedy?”), que me deixou a pensar sobre o peso que não deve ser ter uma família tão bem sucedida. No caso dos Kennedy isso aconteceu: uma irmã do JFK foi submetida a uma lobotomia em 1941 por ser considerada atrasada mental, mas actualmente muitos médicos consideram que estaria longe de o ser, tirando por comparação com os restantes membros de uma das famílias mais poderosas de sempre. O mesmo se passa com os Bush...não digo que George seja lobotomizado ou atrasado mental, mas não me parece irreal de todo que o grande sucesso político do pai e académico do irmão ajudassem a um sentimento de impotência do senhor W., contribuindo para o seu – também ele real – alcoolismo do passado.

O segundo aspecto que gostaria de saber mais tem a ver com a forma como, pelo menos no filme, Colin Powell se opôs à Invasão do Iraque. Não tinha, de todo, essa ideia (apesar de saber do seu apoio ao Obama) mas pelo que o filme retrata dá ideia que dentro daquele Situation Room só ele se opôs àquela decisão, sendo que – curiosamente- era ele “o” militar.

Não sei se foi realmente assim, mas numa coisa o filme é realista. Com o tempo a passar torna-se cada vez mais claro que quem mandava na cabeça do Bush júnior era o Dick Cheney. Ele pode não ter feito o discurso chave do filme (em que abertamente refere que os EUA vão para o Iraque por causa do petróleo e que “...there is no exit strategy! We stay!”), espero honestamente que não o tenha feito e muito menos no Situation Room, mas a cena em que entrega a Bush a documentação do Patriot Act é assustadoramente verosímil e demonstra quem era realmente o commander in chief.

E com estas coisas todas já me perdi um bocado na SMR propriamente dita por isso vou usar os meus super poderes de sumarização e dizer: o tema é interessante, as interpretações são OK (o Josh Brolin vai bem como W., as restantes parece-me que se esforçaram demasiado por ter actores parecidos com as pessoas reais e de menos em ter qualidade garantida) mas o tom é demasiado “revisteiro” para que se possa dizer que este é o biopic definitivo sobre um dos grandes responsáveis pelo estado actual do nosso mundo.

Este é o segundo filme do Oliver Stone que aqui analiso (este é anterior ao Wall Street 2: Money Never Sleeps) e nem um nem outro me deixaram muito satisfeito. A anterior filmografia dele ainda lhe dá algum crédito, mas parece-me que terá de se esforçar mais para voltar a ser a referência que já foi.

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