quarta-feira, 30 de junho de 2010

A Crédito

A Crédito:



Inserido na campanha Micro-filmes para Macro-causas, este A Crédito é um filme a que cheguei apenas e só por causa da actriz principal, Sara Abreu.

Já há uns anos que acompanho a carreira desta actriz, desde as suas origens no teatro (imperdível a sua interpretação, secundária mas scene stealer numa produção da famosa Antígona, de Sófocles), e desde sempre a achei um talento a revelar ao mundo.

Este que é o seu primeiro trabalho em vídeo (ou pelo menos o primeiro que vejo) revela-se, devo admitir, uma ligeira desilusão. Não que o seu trabalho seja em algum momento inferior - sublime a forma como, sem usar uma única palavra, consegue espelhar a montanha-russa emocional daquele personagem! quanta elegância ao montar a bicicleta! - mas o estilo de realização não me agrada por aí além. Se é verdade que na segunda metade do filme a coisa começa a pegar muito melhor, durante o minuto inicial (sim, o filme não chega a 3 minutos...bem menos que o tempo que me demorou a preparar esta crítica) achei que os efeitos visuais interferiam demasiado com o fluir da história.

Mas realmente, é a história o que mais interessa aqui. A Crédito, mostra-nos muito resumidamente uma realidade que foi explorada documentalmente no também português Muitos dias tem o mês, o sobreendividamento de muitos portugueses, e as consequências que isso tem no atirar as suas vítimas para uma espiral de pobreza. Felizmente, enquanto que em Muitos dias tem o mês se lida com as consequências, aqui não há tanta miséria humana, apela-se a que se contenham as causas.

É um filme próprio para o seu contexto: cinema amador e de causas. E se é verdade que não me maravilhou, também não é mentira que dos restantes filmes (e que eu vi) que estão a concurso apenas um me agradou mais.




P.S.: A actriz, Sara Abreu, é uma grande amiga minha e esta é mais subjectiva das minhas subjective movie reviews. Se forem meus amigos também, e porque amigo do meu amigo meu amigo é, toca de ver o filme e votar no final.
P.P.S.: Para quem ainda está em busca da solução para o enigma matemático da SMR anterior, deixo-vos aqui a solução: uma das filhas tem 9 anos e as outras duas são gémeas de 2. Porquê? Vejam a explicação aqui.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

La habitación de Fermat

La habitación de Fermat:




Um homem tem três filhas, um dia perguntei-lhe a idade delas e ele respondeu: se multiplicares as idades delas dá-te 36. Não consegui chegar lá e perguntei de novo. Ele disse "Dou-te outra pista, se somares as idades delas chegas ao número da minha casa". Eu sabia esse número, mas mesmo assim não consegui chegar às idades. Finalmente, ele deu-me uma última pista..."A mais velha toca piano". Que idade têm as filhas?


Se sabem a solução deste enigma, este filme - apresentado frequentemente como a alternativa espanhola ao The Cube - é capaz de ser demasiado simplista para o vosso gosto. É que, na modesta opinião do vosso crítico favorito (eu!), são os enigmas matemáticos o seu maior forte.

Ao contrário do já referido The Cube, aqui os protagonistas não precisam de sair de um quarto para enfrentar perigos: são 4 e são convidados por um quinto para uma reunião com a nata da Matemática espanhola (e, pelo que percebi, seriam génios em qualquer lado) mas quando lá chegam apercebem-se que não vai ser um fim de semana de descanso...são-lhes apresentados enigmas como este que têm de responder num determinado tempo, caso contrário o quarto vai encolhendo até a um ponto em que serão, coitadinhos, todos esmagadinhos. (vejam o poster, se não perceberem como é que funciona)

Enquanto vão tentando resolver os enigmas - que para mim são lixados, mas que realmente parecem fáceis para supostos génios matemáticos - também vão tentando descobrir quem é que os convidou, e porque é que os quer matar. E aí é que as coisas não correm tão bem...os actores até não são maus (tirando o Alejo Sauras, demasiado irritante) mas nunca nos deixam a sofrer por eles, algo essencial num tipo de filmes que vive da nossa empatia com quem está em apuros.

Ou seja, rebobinando. Se forem como eu e adorarem enigmas matemáticos têm duas hipóteses...ou percebem de matemática e acham o filme pouco profundo ou continuam a ser como eu (não percebem nada daquilo!) e acham piada à coisa. Já se não tiverem paciência para aquilo mais vale, lá está, verem o The Cube que se divertem mais.

Foi um bom primeiro esforço dos realizadores, Luis Piedrahita e Rodrigo Sopeña, mas torna-se uma aplicação muito superficial de um conceito que exigia ser mais aprofundado

domingo, 20 de junho de 2010

Keinohrhasen

Keinohrhasen:


Keinohrhasen, que em Português significa algo como Coelho sem orelhas, é uma comédia romântica alemã que não estreou em Portugal. Faz sentido que não a tenham estreado, tal como o seu equivalente português - A bela e o paparazzo - não estreou na Alemanha. (Espero que não tenha estreado mesmo, senão a minha argumentação vai toda ao ar)

Tanto um como outro são mais bem sucedidos na parte da comédia que no romance (ou então sou eu que sou um insensível) e estão demasiado presos a contextos específicos que, fora da sua área de aplicação deixam de fazer sentido. É algo de que frequentemente o humor necessita, um público que no seu conjunto tenha o mesmo background cultural, para que muitas das piadas funcionem. Foi por causa disso que achei o Markl tinha sido um dos pontos altos da Bela e também foi por causa disso que de certeza que não percebi algumas piadas deste filme.

Claro que agora estão a pensar "mas as comédias românticas americanas e inglesas são universais". Na realidade não são, o que acontece é que em ambos os casos estamos relativamente próximos da realidade que representam. Bem vindos à globalização, não é igual para todos.

Mas parando de disparatar sobre a globalização que isto é um blog de cinema. Passemos à história: Ludo (Til Schweiger, que também realiza o filme) , um paparazzi (já viram porque é que me lembrei do outro filme?) faz asneira durante o trabalho e é condenado a 300h de trabalho comunitário numa creche. E quem é que gere a creche? Nada mais nada menos que uma ex-colega de escola (Nora Tschirner, a fazer o papel de geek que é bem gira detrás dos óculos), com quem na altura gozava, de quem não gosta no início e por quem, inevitavelmente, acaba por se apaixonar.

Típica história de comédia romântica, eu sei, superficial e sacarina, mas - e embora eu não seja o maior perito neste tipo de cinema - fiquei com a ideia que consegue ser ainda mais superficial que o costume. Vi o filme numa de desligar o cérebro, nem sequer pensar, e mesmo assim fiquei com a impressão que poderia ter sido bem melhor.

Fica a boa intenção, duas ou três gargalhadas daquelas bem sonoras e a noite leve e bem passada em que o vi. E para vocês, queridos leitores, a recomendação que o vejam com alguém que tenha alguma cultura alemã, para conseguirem perceber grande parte das piadas.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

I'm Here

I'm Here:


Quando me decidi a ver este I'm Here, a última curta-metragem do realizador de Being John Malkovich ou Where the Wild Things Are (Spike Jonze), não sabia ao certo se seria coisa para colocar aqui no blog. Isto porque o filme começa com a frase "Absolut Presents" e estava na dúvida se não seria um anúncio para a conhecida marca de vodka.

Não é. Ao longo dos seus 29 minutos não há uma única referência que seja à marca, e mesmo que houvesse não haveria qualquer problema, já que este é um Filme a sério (com letra grande e tudo).

I'm here apresenta-nos Sheldon, ser solitário com uma vida triste de bibliotecário; mas um dia Sheldon conhece o Yang para o seu Yin, Francesca. Nunca sabemos ao certo o que Francesca faz, mas basta-nos ter em conta que enquanto Sheldon usa o autocarro Francesca é uma orgulhosa condutora; enquanto Sheldon fica em casa a recarregar baterias, Francesca leva-o a dançar ao som da sua banda favorita; enquanto Sheldon sobrevive, Francesca sabe viver.

A ligação entre eles torna-se inevitável e, como em todas as relações a dois, há sempre um que dá mais, e neste caso quem dá mais (dá tudo!) é, não surpreendentemente, Sheldon. Eu normalmente também sou essa pessoa nas minhas relações, e - fatal como o destino - por vezes sinto alguma injustiça nesse desequilíbrio, mas tal como Sheldon acaba a sorrir depois de se entregar totalmente, também eu me sinto bem quando me dou. Ao dar recebe-se sempre, ao receber nem sempre se dá.

A banda que Sheldon e Francesca vão ver chama-se (no filme) The Lost Trees e no tal concerto tocam música de uma banda (do mundo real) chamada of Montreal, uma das que mais ouço. A música que os vemos a tocar chama-se The Past is a Grotesque Animal e na sua letra encontra-se a seguinte expressão: "things could be different/but they're not".

As coisas poderiam, realmente, ser diferentes, mas não são. Sheldon e Francesca são dois robots, mas relação deles não é diferente: é igual às que eu, tu, nós todos temos, já tivemos ou viremos a ter. Que se sobreviva sempre a elas com um sorriso.


P.S.: Este filme só se encontra on-line. Vale mesmo a pena clicar aqui e curtir este doce amor melancólico.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Les herbes folles

Les herbes folles:


Para descansar aqueles que já pensavam que o blog estava morto, posso assegurar-vos que não está. Eu é que tenho andado mais ocupado (isto - ainda - não é a minha profissão) e as idas ao cinema têm-se ressentido. Voltemos, porém, ao activo com mais um filme francês daqueles que vocês tanto gostam.

O nome é Les herbes folles - As ervas daninhas, o realizador é o Alain Resnais (um mito vivo do cinema europeu) e a principal razão pela qual resolvi ir ver este filme foi o excelente e muito original trailer que o promove nos cinemas Medeia. Isso e o estar em sala já há bastante tempo. (Se puderem vejam mesmo o trailer, adorei).

Não fiquei nem surpreendido com o que vi. Enquanto história o filme não passa muito do seu título...é um filme "daninho" na cinematografia de um realizador que já nos deu obras-primas como o Hiroshima, mon amour ou Nuit et bruillard (este já de 1955). É uma história que parte de um acaso, uma carteira que é roubada une intensamente a sua dona e o cinquentão que a encontra, e que nunca se deixa aprofundar demasiado. Nunca percebemos bem o que motiva os protagonistas, nem os secundários que os seguem quase cegamente.

A história é abaixo da média, mas a elevadíssima destreza técnica mais que compensa essa falha. Dá gosto ver como um realizador ainda do tempo em que era preciso saber filmar faz o que quer com os planos que quer - é que agora, com todas as técnicas de pós-produção deve ser mais fácil, digo eu, é tipo fotografia analógica e digital.

Não é um Terrence Malick, não é um Kubrick, é mais show off e menos interessante que ambos, mas é Resnais e deu-me prazer ver o trabalho de um realizador que, como a Empire dizia, insiste em fazer do cinema uma forma de arte.