quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

A bela e o paparazzo + Ainda há pastores?

A bela e o paparazzo:



(sim, é o poster mais manhoso de sempre, mas o filme não é mau)

Tal como a maioria do grupo cinematográfico português, tenho uma relação não muito calorosa com os filmes que por cá são feitos. Na verdade, posso dizer que só gosto realmente de três filmes portugueses: Non, ou a Vã Glória de Mandar, Os Mutantes e Alice. Para além destes houve alguns que não me desagradaram (Aquele Querido Mês de Agosto, por exemplo) e outros que me deixaram mesmo estarrecido com o desperdício de dinheiro (Quaresma ou Branca de Neve são exemplos paradigmáticos)

O maior problema que tenho com o cinema português é a excessiva sobranceria com que a grande maioria nos são apresentados: para o cineasta-tipo português o filme é uma realização de uma visão pessoal e o público, citando o João César Monteiro e usando o primeiro palavrão deste blog, "que se foda". Confesso nunca ter percebido essa visão; é certo que acima de tudo o filme é feito pelo realizador para o realizador (tal como este blog é feito acima de tudo para mim), mas o público não deixa de ser essencial...sobretudo num universo cinematográfica que (como tudo em Portugal) é baseado em subvenções estatais.

Como alguém em tempos dizia, se os produtores de filmes portugueses corressem o risco de perder dinheiro os filmes não teriam como público-alvo duas ou três pessoas. E, por muitas críticas que se possam fazer ao António-Pedro Vasconcelos, há que lhe dar o mérito de tentar criar filmes portugueses para os portugueses.

Este A bela e o paparazzo é um caso de sucesso, a meu ver. Não é um filme genial, diria até que se calhar não chegava ao Bom...fica ali entre o Suficiente mais e o bom pequeno, mas é um filme que pode interessar aos portugueses. Tem uma história básica, bastante telenovelesca até (propositado, tendo em conta que a protagonista é actriz de novelas?), mas nunca se torna demasiado meloso nem self-centered. Tem amor, algum humor (sim, vou ter de falar do Nuno Markl para dizer que se não fosse ele a fazer dele mesmo provavelmente a nota desceria para Suficiente menos) e umas quantas tentativas (frustradas) de nos ensinar uma lição.

Nem sempre é importante um filme ter uma lição. Às vezes basta entreter, e aqui temos um caso em que se sai entretido da sala de cinema.



Ainda há pastores?:



Influenciado pelos trabalhos que o meu irmão tem feito em Trás-os-Montes, e relembrado pelo meu amigo André, finalmente resolvi ceder à minha vontade de ver este documentário sobre a realidade dos poucos pastores que ainda restam no vale de Folgosinho, Serra da Estrela.

Este filme é diametralmente oposto do que analisei acima. Aqui é o Portugal real, o das aldeias que recebem electricidade pela primeira vez em 2005, das pessoas que passam 20 anos em solidão absoluta porque é isso que sabem fazer, de um jovem que tem a minha idade (27 anos) mas que tem uma vida tão diferente que poderíamos viver em séculos diferentes.

Se já alguma vez tiveram o prazer de falar comigo sobre literatura, provavelmente já vos disse que gosto muito de ler biografias porque são uma forma de viver experiências que não poderia ter vivido de outra forma. É precisamente este o motivo pelo qual também gosto muito de documentários...gosto de aprender como é estar noutra realidade que não a minha.

Ainda há pastores? é um filme que responde ao seu próprio título...Ainda há pastores, mas há cada vez menos e em breve deixarão de existir. Num Portugal globalizado, que deixou de ser seu há já bastante tempo, restam ainda uns quantos velhotes (e o tal jovem de 27 anos, e as duas únicas crianças do vale) que vivem como os meus avós - mas já não os meus pais - viveram. São museus humanos, vivendo/vestindo/falando/comendo de uma forma bem própria, longe da massificação de que todos somos vítimas.

Com o passar do tempo, a morte dos tais velhotes e a crescente insatisfação dos (poucos) jovens vai fazer com que estas tradições se percam para sempre. Este documentário é um registo importantíssimo por isso mesmo, um dia em que já não existam "pastores" poderemos olhar para aqui e ver o fim de uma era. O facto de o podermos ver num filme que tecnicamente é bastante bem sucedido é um bónus bastante positivo, mas o que aqui importa é mesmo a mensagem...não façamos com que estas vivências saiam da nossa memória colectiva.

4 comentários:

  1. D'Os Imortais estive para falar, como exemplo de filme que não me desagradou. O Vai e Vem nunca vi, mas poderia falar do As Bodas de Deus na mesma categoria

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  2. Nuno Markl a Presidente da Republica!!! Mas temos que decidir rápido porque os pinguins só cá estão até sábado, eheh (não cheguei a perceber onde esta dos pinguins encaixava na história...) Mas, agora a sério, gostei do filme, achei levezinho e agradou-me :)

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  3. Faz-me confusão como é que Portugueses interessados por cinema não conhecem o trabalho do António Silva, Ribeirinho e Vasco Santana, ou reconhecem o génio do César Monteiro.

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  4. Dos clássicos que mencionaste vi precisamente...os clássicos. Quanto ao César Monteiro, não posso reconhecer o génio de alguém que não acho genial.

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