Até para o ano e até para a semana.
João
Estão a ver o The Hangover? Foi a comédia mais bem sucedida do ano passado e, como não poderia deixar de ser, mais cedo ou mais tarde haveria de dar uma sequela. Não, ainda não deu mas é como se tivesse dado porque em Due Date temos uma tentativa, usando o mesmo realizador mas nenhum personagem em comum.
Não acharia estranho que alguns de vocês, queridos leitores, me dissessem “quando vi o trailer pensei mesmo que era uma sequela”, pois foi isso que aconteceu comigo. É que, para os que não sabem, apesar de tudo o que disse no parágrafo anterior sobre não haver personagens em comum a diferença num deles é apenas o nome...enquanto que no Hangover o “boneco” se chama Alan e é esquisito, aqui tem o nome de Ethan e é também esquisito.
Mas há ainda uma outra diferença (sim, eu sei que disse que só havia uma, menti!)...o filme em que o Alan aparece é talvez a melhor comédia que vi o ano passado o filme do Ethan não é das piores que vi este ano mas não é nada de jeito. Lá pegaram na ideia base do Hangover (um gajo certinho tem de estar em Los Angeles para uma data importante mas até lá acontecem uma data de coisas estranhíssimas que quase põem em causa a chegada ao destino) e fizeram um road movie em vez de restringirem a acção a Las Vegas.
Então e perguntam vocês: “Se são assim tão parecidos e o primeiro teve tanta piada porque é que não gostaste deste?”. E eu respondo: “Porque enquanto que no primeiro tudo é verosímil (tirando duas cenas que podem, ou não, envolver um Mike Tyson e um tigre) neste nada o é e, ainda pior, o tipo de humor é bem mais básico.”. E porque, meus amigos, Las Vegas é o cenário ideal para um filme em que tudo é possível, enquanto que Birmingham, Alabama nem por isso. Nunca se ouviu dizer "What happens in Birmingham, Alabama, stays in Birmingham, Alabama" ou já?
Sim, meus amigos, estamos perante um filme que usa os seguintes gags : cinzas do paizinho em sítios impróprios, porrada com paraplégicos e cães masturbadores. Acho que está (quase) tudo dito.
Outras coisas que são importantes de dizer:
1. Percebo porque é que o Zach Galifianakis faz o mesmo papel nos dois filmes, na medida em que sempre o considerei muito menos engraçado do que o pintam;
2. Não percebo porque é que o Robert Downey Junior, que estava a recuperar a sua carreira, decidiu fazer algo tão fraco, e;
3. Não percebo como é que durante a edição do filme ninguém notou o gigantesco plot hole (estou a usar demasiadas expressões em inglês, mas não sei como traduzir isto) que é a cena de perseguição da polícia mexicana. Quem já viu sabe do que estou a falar.
Um filme sobre o qual não sabia sequer da sua existência até o começar a ver é algo cada vez mais raro no meu mundo, mas ainda acontece – como aconteceu em relação a este filme.
Estamos perante um filme com muito pouca divulgação sobre a batalha judicial que se seguiu à invenção de uma coisa que também ela sobressai muito pouco mas que quase todos usamos: o limpa-pára-brisas intermitente. Confesso que não sabia sequer que só nos anos 60 é que esta tecnologia foi inventada, quanto mais o nome do inventor (Robert Kearns) e o caso judicial que o colocou a ele contra a Ford Motor Company.
Estão a ver algumas semelhanças com o The Social Network? Eu também pensei nelas, já que a nível de estrutura a história é semelhante: o tal momento de génio, a invenção e a posterior batalha pelo direito a lucrar dela. Só que, como era de esperar, para uma invenção mais aborrecida um filme mais aborrecido (sim, eu sou daquela minoria que considera o limpa-pára-brisas intermitente mais desinteressante que o facebook) e estes dois filmes não estão sequer no mesmo patamar.
Aqui, ao contrário do The Social Network em que tudo se passa a nível de ADR (Alternative Dispute Resolution) o caso vai mesmo a Tribunal e o nosso inventor solitário tem de se defender sozinho contra um gigante chamado Ford. É um tema recorrente em filmes mas mais uma vez aqui nada sobressai, já que não existe nenhum daqueles monólogos inspiradores tão típicos de filmes de Tribunal...só termos técnicos sobre, repito, limpa-pára-brisas intermitentes.
Acho que esta seria uma boa avaliação para o filme, por acaso: um filme que se vê (não é desagradável) mas que por não ter nada que realmente se destaque ficaria bem numa qualquer madrugada da TVI. Nesse tipo de horário seria possível apanhar alguns espectadores por causa de uma das actrizes secundárias, Lauren Graham da série Gillmore Girls mas pouco mais que isso, já que o seu actor principal (Greg Kinnear, do Little Miss Sunshine, por exemplo), sendo o ponto alto de toda a produção, está bastante irreconhecível.