Antes de tudo o resto dois avisos à navegação: o mais recente filme de espiões com George Clooney não tem nenhuma das características típicas desses filmes e, surpresa!, não é sequer um filme com espiões.
Por isso, e para aqueles que – como eu estava antes – estão induzidos pelo marketing achando que estamos perante um filme de espiões dito normal, tenho de vos dizer o seguinte: amiguinhos, se querem ver explosões, fujam deste filme! Se querem ver um bom filme, fiquem com ele.
Eu (claro que) fiquei e que bem que fiz. The American é um filme lento e silencioso, o oposto ao tal cliché que muitas vezes associamos a um filme deste género, mas em nenhum momento me aborreci e em nenhum momento pensei que preferiria estar a ver outra coisa.
O herói desta história é Jack (ou Edward, conforme a pessoa com quem falem), um George Clooney muito longe do que costuma ser. Aqui é um “custom arms maker” – nope, não é um espião – que depois de se ver em apuros na Suécia é enviado pelo seu patrão para a localidade italiana de Castelvecchio. Daí salta para Castel del Monte e por lá fica, introspectivo e enigmático para os restantes habitantes (à excepção do padre Benedetto - Paolo Bonacelli, actor principal no único filme que me deixou enjoado: Salò o le 120 giornatti di Sodoma), enquanto prepara a sua próxima entrega sendo que quando sai fá-lo no seu Fiat Tempra (e não num Aston Martin) e para pouco mais do que para ter sexo (pago) sempre com a mesma pessoa, Clara (Violante Placido). Muito pouco 007, portanto.
É esta a história base do filme, mas de certa forma pode dizer-se que é meramente acessória. Aqui, o que é dito e feito é menos valioso do que é visto e reflectido. Não que sejamos nós, espectadores, que tenhamos de estar a pensar ininterruptamente para seguir a história (à la Mulholland Drive, por exemplo), quem apresenta estas características é Jack/Edward. Talvez seja defeito profissional talvez seja vontade de não repetir a asneira inicial, de uma forma ou de outra o sentimento de inquietude é permanente...mesmo naquela terriola de 463 habitantes Jack/Edward não tem descanso.
Volto a referir, não tem descanso interior, porque a nível físico basta dizer que a única cena de perseguição é numa scooter, e daí começar a fazer mais sentido a escolha de Anton Corbijn para realizar um filme desta temática. É que, para quem não sabe, Corbijn só fez um filme até agora (Control, biografia do Ian Curtis, vocalista dos Joy Division) e está mais habituado a lidar com imagens estáticas e silenciosas.
Daí a lentidão e o silêncio do filme, que não paro de referir. Daí este The American ser muito diferente do que seria se tivesse sido realizado por Paul Greengrass ou Michael Bay (se bem que o livro em que se baseia nunca permitiria muitas explosões, é certo). Daí ser um tão bom filme. Num mundo em que tudo o que é “fixe” é para ser vivido a 1000 à hora e com mais cores por metro quadrado que a strip de Las Vegas é bom podermos parar durante uma hora e tal e observar este quadro em movimento.
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