Antes de ir para o Centro de Congressos do Estoril (uma das salas do Estoril Film Festival) falava com uma amiga que me perguntou como é que escolho os filmes que quero ver nos festivais? A resposta que lhe dei, neste caso, é que já tinha ouvido o muito hype positivo que o Winter’s Bone tem tido junto da crítica. Posso agora juntar-me a esse hype e recomendar vivamente que o vejam assim que estrear nas salas comerciais ou, porque não é um filme muito mainstream, quando for directamente para DVD.
Sabia do hype antecipadamente mas não sabia quase mais nada, à excepção de ser protagonizado por uma actriz muito jovem (Jennifer Lawrence), que dava uma lição a muitas outras bem mais experientes. Também isso posso confirmar, a protagonista está constantemente em cena (penso que não há nenhuma cena sem ela, mesmo) e em todas elas dá razão a quem já vaticinou uma nomeação ao Oscar de melhor actriz.
Ela vai realmente muito bem mas não é a única. Teardrop, seu tio e derradeiro protector (se bem que com métodos muito pouco convencionais), é interpretado por John Hawkes, protagonista de Me, You and Everyone We Know e está tão diametralmente oposto desse e de outros seus papeis que só posso aplaudir a sua prestação. O negócio de um actor é transformar-se e com ele só me apercebi de quem era depois de ler no IMDB, apesar de durante o filme achar sempre que já tinha visto aquela cara.
O que também é muito bom é a realização de Debra Granik, realizadora independente que assina aqui a sua segunda obra. Todo o ambiente do filme é metálico (a luz, as cores, os sons) e feio, quase assustador, chegando a parecer-se por vezes com o The Road mas com a agravante de aqui tudo ser real. Este mundo existe, situa-se no Norte dos EUA (Ozark Mountains) e é um retrato realista da América, muito mais do que o que se costuma ver em filmes de Hollywood. Ao longo do filme pensei que deveria comparar-se esta jovem de 17 anos (é essa a idade da protagonista) e as que entram no programa My Super Sweet 16, da MTV...dificilmente pensaríamos que se tratam de cidadãs do mesmo país.
Finalmente, a tudo isto junta-se uma boa história. A premissa em si não é nada de outro mundo: uma jovem precisa de encontrar o pai para poder continuar a viver a sua (já de si muito difícil) vida, mas o que mais me deixou bem impressionado foi a capacidade que o filme tem de nos mostrar como é que aquela gente vive. Numa região perdida nos confins dos EUA as regras ainda são muito próximas do que ligamos a filmes de cowboys. A honra, o sangue e sobretudo o silêncio perante a lei (assim chamam à polícia) são valores acima dos quais ninguém deve passar, sob pena de sofrer duras consequências. Ree ousa confrontar essas regras, fá-lo por duas simples razões: Sonny e Ashlee, seus irmãos bastante mais novos e únicas razões pelas quais ela – que não pertence realmente àquele mundo miserável – não foge em busca de uma vida melhor.
Só depois de sair do cinema é que soube que este filme tinha ganho dois importantes prémios em Sundance. Confirma-se portanto o hype e agora, depois da minha recomendação, ainda mais. Vejam o filme quando puderem, vão sair deprimidos mas ao mesmo tempo satisfeitos por terem ganho (não perdido) aqueles minutos.
P.S.: Como já referi, vi o filme no âmbito do Estoril Film Festival. É a terceira edição seguida a que vou e das três fiquei com a ideia de que esta está pior que as anteriores (mas também posso estar mais exigente, é possível). Ou eu estou ceguinho ou não existem sinopses dos filmes no site e as mudanças repentinas de sala bem como reels com as legendas todas descoordenadas não ajudam à boa reputação do evento. Lá estarei em 2011 (e noutras sessões de 2010) para ver se melhora.
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