E cá está ela, a prometida SMR ao The Social Network, filme que foi adoptado em quase todo o mundo como sendo “o filme do facebook”.
É verdade, amiguinhos que têm vivido numa caverna desde 2007 (ou 2004, se forem americanos), existe um site chamado facebook que é neste momento, em termos de “população” o terceiro maior país do mundo, com 500 milhões de membros. Este é um filme que conta as suas origens, em 2004 (apenas em 2004!).
Disse “um” filme e não “o” filme porque é preciso fazer-se sempre esta ressalva: o filme é baseado num livro escrito por Ben Mezrich baseado nas informações dadas pelo primeiro CFO do facebook Eduardo Saverin (que, vemos no filme, não pode ter uma visão objectiva) e não teve qualquer informação pelo lado do Mark Zuckerberg, fundador do site e génio anti-social que é aqui interpretado pelo (surpreendente) Jesse Eisenberg.
O resto, poderia dizer-se, é história. Mas não é bem assim, uma das coisas mais estranhas do filme foi – para mim – pensar que todos aqueles eventos decorreram há 5 anos, precisamente quando também eu estive nos EUA e muitas vezes fui à zona da Califórnia para onde eles foram viver. Devia ter conhecido o Mark, apostado naquilo e agora era tão rico que não precisava de escrever críticas de cinema para sustentar a família.
Mas deixemo-nos de considerações parvas. O filme é BOM, assim mesmo com letra grande. E porque é que é bom? A resposta imediata seria “Porque quando acabou estava pronto para mais uma horita daquela história, fiquei mesmo com pena de ter acabado” mas vocês exigem de mim mais que uma resposta imediata, por isso venha a resposta extensa.
Porque como seria de esperar do David Fincher (realizador de que, reparei há pouco tempo, vi todos os filmes) toda a história nos é apresentada de uma forma brilhante e com um ritmo devastador. O primeiro diálogo entre Mark e a sua namorada de então, Erica (que segundo o filme foi a razão pela qual o facebook foi criado, mas aqui acho que houve alguma criatividade), dá o mote: apresenta-nos a personalidade de Mark e sobretudo seu ritmo, mental e verbal, que poucos de nós teríamos paciência para aturar se ele fosse algum colega de trabalho ou de escola mas que para a história funciona na perfeição.
A partir daí a coisa constrói-se através de flashbacks e flashforwards que nos transportam entre os vários locais onde as coisas aconteceram (dormitórios de Harvard, onde o Mark estudou, a tal casa de Palo Alto que já referi, os escritórios em San Francisco, etc.) e os locais – também eles reais – onde as também reais sessões de arbitragem entre Mark e aqueles que procuraram ser compensados pelo seu trabalho (ou não) para a criação deste fenómeno.
É que como diz o poster deste filme, não é possível fazer 500 milhões de amigos sem se fazer uns quantos inimigos. Isto aconteceu nesta história e os tais inimigos foram por um lado Eduardo Saverin, primeiro CFO da empresa e que basicamente foi enrolado até ficar com uma percentagem mínima das acções, e por outro os irmãos Winklevoss e Divya Narendra, que afirmam ter contratado Mark para os ajudar na programação de um site semelhante cuja ideia, dizem, foi apropriada para o facebook.
Sim, o “filme do facebook” é na sua base um court-room drama, mas nem por um momento sentimos associado a ele aquela ideia – generalizada – de que as disputas judiciais são uma seca. Quanto as vemos elas são electrizantes e, na minha opinião, cómicas dado o sentido de humor sequíssimo do fundador da rede social que todos nós usamos e quando somos transportados para fora dela também não temos de lidar com conversas de geeks...Mark é, sem dúvida um geek mas neste caso (e não na vida real, segundo me parece) a presença de Sean Parker (interpretado por um Justin Timberlake que me agrada infinitamente mais como actor que como cantor) só traz benefícios ao filme.
Com ele vêm as festas, vêm os momentos de euforia, o crescimento da empresa – será que seria a mesma sem ele? – mas também os seus maiores problemas. No final fiquei sem qualquer dúvida de que foi ele que tramou Eduardo e não pude deixar de pensar – ao contrário do que tem sido a opinião dominante – que Mark não é assim tão mau como o pintam, ele é apenas um gajo (mais novo que eu) muito enfiado no seu mundo e que, a dada altura, foi levado pela excitação de dominar algo muito maior que ele e com isso lixou quem o tinha ajudado.
Esta história, única, é assim a base de um filme também único - é o primeiro filme sobre uma pessoa viva tão nova (26 anos) - e é, sem dúvida, um empolgante retrato do que deve ter sido uma empolgante experiência.