sábado, 2 de outubro de 2010

Four Lions

Four Lions:


Se vos perguntassem qual o tema mais difícil para se fazer uma comédia qual respondiam?

Eu responderia o Holocausto, e todos sabemos que o Roberto Benigni conseguiu, com A vida é bela, a dificílima tarefa de nos fazer rir (e chorar) com o dia a dia de um campo de concentração. A minha segunda opção seria provavelmente o terrorismo islâmico e aqui, infelizmente, este Four Lions não consegue ser tão bom como a obra-prima do Benigni, o que - digamos - também era muito complicado.

Mas é assim. Four Lions mostra-nos o que se passa com um grupo de ingleses (de origem paquistanesa, e não só) que por razões diversas decidem que o que devem fazer com a sua vida é seguir o caminho da jihad e (tentar) explodir-se algures em Inglaterra.

Como já vos disse, o filme é uma comédia e tem uma coisa boa,mostra-nos algo que não duvido que seja verdade: os terroristas não são - na maior parte das vezes - os gajos super intensos que vemos nos filmes que de tempos a tempos surgem na CNN. Os terroristas, meus amigos, são maioritariamente gajos com demasiado tempo livre.

E se os terroristas reais são assim mesmo, espero que também sejam tão estúpidos como Waj, Omar, Faisal e Barry, dos quais apenas um aparenta ter alguma ideia por detrás da vontade de se martirizar enquanto que os outros estão lá - acredito eu - nem sabem bem porquê. E aqui, ao contrário do que disse há uns posts atrás, a estupidez até é uma vantagem, ao dar ao filme um tom totalmente neutro no que toca a um tema que poderia dar azo a muitas polémicas.

Sim, porque não duvidem que se se fizesse um filme sério sobre grupos terroristas organizados no interior do Reino Unido, que abordasse precisamente as mesmas coisas mas abordando-o com outro prisma, o filme não passaria tão despercebido. É que durante o filme fala-se de coisas bastante importantes até, as razões que levam a que jovens ingleses como tantos outros pensem que o martírio é uma coisa interessante, mas quando temos diálogos como aquele em que Barry (esse nome tão perfeito, por ser a perfeita antítese de um nome de terrorista) tenta explicar a sua teoria que o melhor local para bombardear é uma mesquita a coisa nunca pode ser levada muito a sério e, ouso dizer, é isso o ponto forte do filme.

É que no fundo aqui conseguiu-se um feito difícil: por um lado o filme nunca assustará os ocidentais que o vejam (não criará jamais um clima de medo em relação a hipotéticos grupos como este que existam na realidade) e por outro parece-me que nunca haverá ameaças de morte contra o realizador (Christopher Morris) porque, pura e simplesmente, os hipotéticos grupos semelhantes acabarão por pensar "que bando de idiotas" e nunca se sentirão ofendidos.

Com o mérito de fazer a melhor piada de sempre sobre uma questão que sempre quis colocar a uma pessoa profundamente religiosa ("Era o plano de Deus? Porque é que Deus queria que ele se explodisse com uma ovelha?") Four Lions é, portanto, um filme que por vezes nos faz rir com o terrorismo mas que apesar de tudo em momento algum me convenceu que justifica o grande hype que teve no Reino Unido.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Queer Lisboa: programa de curtas 2


Devo começar por confessar que esta foi a primeira edição do Queer Lisboa a que fui. Dito isto e com base na pouca experiência que tenho do festival, quero dar os parabéns à organização pelo profissionalismo que a sessão a que assisti aparentou, bastante mais do que o que - confesso - estava à espera. Posso não concordar totalmente com a excessiva colagem do festival ao movimento queer mas no que toca ao que a este blog interessa - cinema, apenas e só - correu tudo bem, sem falhas aparentes da organização.

Feito este louvor, sigamos para as curtas que vi no Programa de Curtas 2, do passado Domingo.


Cavalos Selvagens:

Este filme foi a razão principal para me ter deslocado ao São Jorge em vez de ir à praia, já que é realizado por amigos de uma amiga minha (a Daniela, digam olá à Daniela...olá Daniela!) e a dita amiga me convidou para a acompanhar.

No Indie Lisboa do ano passado assisti à primeira curta desta dupla de realizadores (André Santos e Marco Leão) e - como podem ver no maior post de sempre deste blog - achei-a interessante esteticamente mas pouco mais (chama-se A nossa necessidade de consolo, by the way). Felizmente a segunda já é bastante melhor. O estilo bastante contido mantém-se - a totalidade dos 11 minutos da curta é passada em silêncio - mas na relação entre os dois personagens (interpretados pelos realizadores) há afecto e humanidade, para além da distância.

Não me parece que já estejam prontos para se lançar no mundo das longas-metragens comerciais (nem sei se é essa a intenção), mas no circuito de festivais, e tendo em conta que são bastante jovens, auguro-lhes um futuro de sucesso. Parabéns!


Haboged:

(já se sabe qual é o problema das curtas em festivais de cinema...posters nem vê-los)

Nas notas que tirei durante este filme apenas tenho escrito: "bleh, não tem interesse nenhum". Agora desenvolverei um pouco mais: bleh, não me suscitou interesse nenhum.


Steam:

Apesar de ser uma curta metragem de apenas 16 minutos, este filme tem duas partes bem distintas: na primeira estamos perante um filme de dança, na segunda perante um episódio do Alfred Hitchcock Presents.

Estranhamente, neste caso optaria antes pelo vídeo de dança. Nessa parte assistimos a um engate numa sauna em que muito pouco é dito mas muito é transmitido através dos movimentos dos actores e da (apropriadíssima) banda sonora. Já na segunda parte vemos o período pós-engate, em que os protagonistas se apercebem que não conseguem sair de lá. Aqui, a boa impressão com que fiquei dos dois actores esbateu-se um pouco, tendo mostrado que funcionam melhor sem falas do que com elas, mas mantive o interesse no realizador, que demonstrou bastante qualidade ao atingir o seu objectivo de "realizar uma espécie de peça de teatro num cenário muito reduzido".


Toiletzone:

(ver o que disse no Haboged)

Dos cinco filmes que vi este foi o de que mais gostei e é, de longe, o que apresenta mais condições para ser apreciado por um público mais generalista, é que - tendo a temática queer como um assunto meramente acessório - o filme aborda antes uma temática bem actual: os layoffs e a extinção de postos de trabalho.

Eu explico: ao longo da meia hora de filme acompanhamos a história de três funcionários da casa de banho de um qualquer centro comercial francês. Juntamente com eles somos forçados a viver um dilema: ou afastam os "répteis" da casa de banho ou fecham a casa de banho e vão para a rua, sendo que répteis é o nome dado por um dos funcionários aos homens que - e aqui está a ligação ao mundo queer - usam os cubículos do WC para encontros pecaminosos com outros homens. Sim, disse pecaminosos, faz-me lembrar o saudoso Diácono Remédios.

Conseguem fazê-lo mas, ironia da economia actual, como as casas de banho em França se pagam a facturação desce com a partida dos "répteis" e ... fecham a casa de banho e lá vão os funcionários para a rua.

Tratando com muito humor duas realidades que são por vezes trágicas, o realizador Didier Blasco mostrou aqui que é possível fazer uma excelente comédia de casa de banho sem uma referência escatológica. Algo muito difícil num mundo pós-American Pie.

Acabou por ganhar o prémio de melhor curta do festival. Não estranho nada, é bastante bom.


Los fuegos:
(ver o que disse no Toiletzone)


Este filme tem duas coisas em comum com o Haboged:
1- tem um homem nu a (tentar) matar outro homem nu depois de uma cena de sexo;
2- é uma valente bosta.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Dinner for Schmucks



Neste Dinner for Schmucks há uma linha de diálogo que me ficou na memória: such a pleasure, to laugh at someone else's misfortune. Ficou-me na memória porque penso precisamente o oposto, que não é um prazer rirmo-nos face à desgraça alheia. Não estou a dizer que nunca me ri nem que não me voltarei a rir em situações - como a típica de alguém a cair - em que outros sofrem, mas honestamente vos digo que mesmo nesses momentos em que realmente me rio não sinto que esteja a ter prazer na desgraça de quem, coitado, caiu à minha frente.

É este um dos dois grandes problemas deste remake de um filme francês que nunca vi (esta semana tem sido só posts sobre remakes de filmes que não vi, caramba!)...tenta fazer-nos rir da desgraça daqueles palermas quando na verdade - pelo menos a mim - me fez sentir mal de tão cruel que consegue ser. Obviamente os personagens não são torturados, nem nada que se pareça, mas ao longo do filme (com especial incidência na cena final, onde observamos o tal jantar) as piadas conseguem ser tão mázinhas que mesmo as que teriam piada perdem-na.

O outro problema é terem achado que o Steve Carrel conseguia, por si só, salvar o filme. Em tempos eu gostei do Steve Carrel (agora, pensando bem, acho que já não consigo gostar) mas sempre o achei mais talhado para sideshow que para atracção principal, com a excepção feita ao 40 Year Old Virgin em que aí sim conseguiu ser um bom protagonista a fazer um papel que ... basicamente repete neste filme.

Ora, há coisas que se uma vez têm piada a partir da segunda deixam de ter. E este personagem, sempre o mesmo, que ele anda a interpretar para aí desde o Anchorman: The Legend of Ron Burgundy já chateia! Faz-nos rir de tempos a tempos (cada vez mais raramente) mas o resto do tempo só dá pena porque, como dizia uma frequentadora do fórum da Empire, a dada altura só podemos pensar que Barry (o nome do "idiota-mor" do filme) é mesmo atrasado mental, de tanta idiotice junta.

E perguntam vocês? Então mas não é possível fazer-se um filme baseado apenas na idiotice? É mais difícil do que parece! Podem invocar filmes como o Austin Powers ou o Gato Preto Gato Branco em favor do argumento pró-idiotice, mas se virem bem as coisas tanto um como outro têm algo mais que uma série de piadas repetitivas baseadas no conceito de um adulto de 40 anos a comportar-se como uma criança de 6.

Para além do Steve Carrel quase não há mais nada para dizer do que o que já foi dito: o filme está completamente dependente dele. Sim, existem outros personagens (alguns até interpretados por actores conhecidos, como o Paul Rudd (que fez o I Love You, Man, exemplo de como é possível passar directamente bosta para o celulóide) ou o Zach Galifianakis do The Hangover (essa sim uma boa comédia) e existe uma tentativa de história que poderia ter piada se fosse bem tratada, mas no final de contas não deixamos de estar perante um filme que claramente entrou no tão querido modo piloto automático da selecção portuguesa de futebol e não se deu ao trabalho de reparar nos gigantescos plot holes que nem sequer um idiota dos do filme ousaria atravessar.


P.S.: Na sequência da total falta de entrega do filme, a equipa de legendagem deve ter tirado férias e feito tudo no Google Translate. Há muito tempo que não notava tanto erro de tradução num só filme. I'll be leaving não quer dizer eu sobreviverei!

domingo, 19 de setembro de 2010

Pedido de desculpas

Pessoal que lê isto pelo Google Reader: peço desculpa pelo post duplo em relação ao I Love You, Phillip Morris, mas houve um problemita na edição da coisa e não consigo retirar o post dos readers


(Isto também serve de pedido de ajuda para alguém que o saiba fazer, haha)