quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Fair Game

Fair Game:



Se a SMR anterior era a um filme de espiões que não é bem um filme de espiões, esta vai ser sobre um filme de espiões puro e duro, tanto que nem sequer tem um título original. Fair Game é o título de pelo menos outros 5 filmes, sendo que um deles envolve cangurus e deve ser muito bom.

Neste Fair Game, com a Naomi Watts e o Sean Penn em vez dos ditos cangurus, temos a história (verdadeira? já lá voltamos) de uma agente secreta da CIA cuja identidade foi exposta publicamente por causa do activismo do seu marido – um antigo embaixador que colaborou também com a CIA - contra a invasão americana do Iraque em 2003. O grande problema nesta questão é a suspeita (bastante fundada, ao que parece) de que essa “exposição” foi ordenada pela Administração Bush, contrariamente a todas as normas existentes sobre a protecção da identidade dos agentes secretos.

Quando me coloco a questão sobre a veracidade da história faço-o porque todo o filme parte do princípio que realmente o Plame Affair foi uma cruzada da Administração Bush contra o embaixador Joseph C. Wilson, levando na enxurrada a sua mulher. Não sei se foi ou não – acredito que sim, dadas as irrefutáveis provas de que as famosas armas de destruição massiva que levaram à dita invasão nunca existiram – mas dadas as variadas críticas feitas ao filme pela sua “construção de mitos históricos” é natural que se pense que algo foi exagerado para tornar a história mais dramática.

Independentemente disso, o que para esta SMR interessa é que o realizador Doug Liman fez um bom trabalho criando um thriller que não tendo perseguições e muitas explosões - tem uma cena secundária muito boa em que mostra aquelas explosões que todos nós vimos na CNN mas do solo, da perspectiva daqueles que com elas morreram ou ficaram feridos – consegue manter-nos on the edge of our seats pela forma como um Governo esmaga completamente alguém que supostamente deveria defender por forma a poder sustentar uma guerra sem justificação.

É óbvio que no meio das mais de 150.000 mortes que se estima terem sido consequência desta invasão e subsequente guerra o emprego da senhora Plame é, apesar de tudo, pouco relevante, mas num mundo em que todos os dias a Wikileaks lança novas achas para a fogueira em que a diplomacia norte-americana se está a queimar, seria importante que se desse mais atenção a esta história. Ela, como tantas outras, mostram que o conceito de bom e de mau não é objectivo, dependendo apenas de quem controla a forma como a informação é apresentada.

Alguém tem dúvidas de que se outro país agisse como os EUA agiram nesta guerra teria à sua perna ... os próprios EUA?

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

The American

The American:



Antes de tudo o resto dois avisos à navegação: o mais recente filme de espiões com George Clooney não tem nenhuma das características típicas desses filmes e, surpresa!, não é sequer um filme com espiões.

Por isso, e para aqueles que – como eu estava antes – estão induzidos pelo marketing achando que estamos perante um filme de espiões dito normal, tenho de vos dizer o seguinte: amiguinhos, se querem ver explosões, fujam deste filme! Se querem ver um bom filme, fiquem com ele.

Eu (claro que) fiquei e que bem que fiz. The American é um filme lento e silencioso, o oposto ao tal cliché que muitas vezes associamos a um filme deste género, mas em nenhum momento me aborreci e em nenhum momento pensei que preferiria estar a ver outra coisa.

O herói desta história é Jack (ou Edward, conforme a pessoa com quem falem), um George Clooney muito longe do que costuma ser. Aqui é um “custom arms maker” – nope, não é um espião – que depois de se ver em apuros na Suécia é enviado pelo seu patrão para a localidade italiana de Castelvecchio. Daí salta para Castel del Monte e por lá fica, introspectivo e enigmático para os restantes habitantes (à excepção do padre Benedetto - Paolo Bonacelli, actor principal no único filme que me deixou enjoado: Salò o le 120 giornatti di Sodoma), enquanto prepara a sua próxima entrega sendo que quando sai fá-lo no seu Fiat Tempra (e não num Aston Martin) e para pouco mais do que para ter sexo (pago) sempre com a mesma pessoa, Clara (Violante Placido). Muito pouco 007, portanto.

É esta a história base do filme, mas de certa forma pode dizer-se que é meramente acessória. Aqui, o que é dito e feito é menos valioso do que é visto e reflectido. Não que sejamos nós, espectadores, que tenhamos de estar a pensar ininterruptamente para seguir a história (à la Mulholland Drive, por exemplo), quem apresenta estas características é Jack/Edward. Talvez seja defeito profissional talvez seja vontade de não repetir a asneira inicial, de uma forma ou de outra o sentimento de inquietude é permanente...mesmo naquela terriola de 463 habitantes Jack/Edward não tem descanso.

Volto a referir, não tem descanso interior, porque a nível físico basta dizer que a única cena de perseguição é numa scooter, e daí começar a fazer mais sentido a escolha de Anton Corbijn para realizar um filme desta temática. É que, para quem não sabe, Corbijn só fez um filme até agora (Control, biografia do Ian Curtis, vocalista dos Joy Division) e está mais habituado a lidar com imagens estáticas e silenciosas.

Daí a lentidão e o silêncio do filme, que não paro de referir. Daí este The American ser muito diferente do que seria se tivesse sido realizado por Paul Greengrass ou Michael Bay (se bem que o livro em que se baseia nunca permitiria muitas explosões, é certo). Daí ser um tão bom filme. Num mundo em que tudo o que é “fixe” é para ser vivido a 1000 à hora e com mais cores por metro quadrado que a strip de Las Vegas é bom podermos parar durante uma hora e tal e observar este quadro em movimento.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Easy A + This Film is Not Yet Rated

Easy A:



Uma adolescente de um qualquer liceu do Orange County está farta de ser invisível perante os seus colegas. Por motivos que não têm nada a ver com essa invisibilidade (embora as manobras promocionais do filme o queiram dar a entender) finge que já teve sexo, e logo com um estudante universitário (!). Daí começam os boatos e ela resolve aproveitar a fama de putéfia (que, no final de contas, acaba mesmo por ser) para ganhar popularidade e, porque não?, alguns trocos.

Resolvi ver este filme porque já tinha lido em vários sítios que era a "comédia adolescente definidora desta geração", tal como o American Pie e o Clueless já o tinham sido das anteriores.

Acontece que ao contrário desses dois, este Easy A não tem o mínimo de originalidade e, honestamente, não merece estar na mesma lista. Não que os outros dois sejam grandes obras de arte, que não são, mas pelo menos têm piada e de certa forma são realmente marcantes.

Aqui a única coisa marcante é a actriz principal, Emma Stone. Não só é a única interpretação digna de nota, como fiquei com vontade de a ver mais vezes. O resto é cliché atrás de cliché e muito poucas piadas. Não vale a pena perder tempo a ver.



This Film is Not Yet Rated:



No passado mês de Abril disse em relação ao The September Issue que era o primeiro filme que vi em duas metades e ambas em aviões. Este é o segundo, mas com menos piada porque foi na ida e na volta da mesma viagem e não a caminho de dois continentes diferentes.

Dito isto, falemos do filme.

Quem são as pessoas que, nos EUA, decidem as classificações dos filmes? Nunca tinha pensado nisso e vocês provavelmente também não. Se me perguntassem isso antes de ver o filme eu diria que era a MPAA, uma entidade oficial com representantes da indústria...e seria parcialmente mentira. É a MPAA, realmente, mas é uma entidade privada com membros secretos que têm mais afiliação religiosa que cinemática.

Neste documentário o realizador propõe-se a expor esta entidade. Consegue-o mas não me conseguiu deixar muito interessado. Vemos as suas tentativas de contacto directo com a MPAA, as detectives privadas que contrata para conseguir revelar os nomes dos seus membros e, a melhor parte do filme, alguns exemplos comparativos de filmes que foram considerados demasiado agressivos (a nível de violência ou sexualidade) e filmes que não o foram...com algumas surpresas.

Foi esse mesmo o ponto mais interessante do filme, porque tudo o resto é tratado de uma forma demasiado leve e ao mesmo tempo militante. O tema é interessante (uma diferente classificação pode significar diferenças de milhões em termos de facturação) mas merecia ser tratado com maior qualidade.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Machete

Machete:



Lembro-me de ser mais puto e a minha mãe dizer que depois de um dia de trabalho é bom ver algo "levezinho." Ora, na 3ª feira passada percebi totalmente o que é que ela queria dizer com aquilo. Felizmente (para mim e para vocês) ao contrário delas não me pus a ver novelas mas sim o Machete, nova obra do Robert Rodriguez.

Provavelmente já ouviram falar disto, mas este filme começou por causa do Grindhouse, esforço conjunto do Rodriguez e do Tarantino que em Portugal, e em grande parte do mundo, foi apresentado como dois filmes separados. Pois nos sítios onde passou como um só, à boa maneira dos antigas exibições de série B, entre os filmes houve direito a uma série de trailers falsos...um deles era o de Machete, e foi por causa do sucesso do trailer que hoje temos a longa-metragem.

E "levezinho" ele é! Não levezinho no sentido em que não tem membros decepados, cabeças decapitadas, telemóveis inseridos dentro de vaginas ou olhos furados com saca-rolhas, nada disso. Quando digo levezinho é no sentido em que é tão brainless que pela primeira vez em muito tempo nem sequer tirei notas ao longo do filme.

Nem é preciso, senão vejamos o resumo: Machete (Danny Trejo, no seu primeiro papel principal em mais de 200 filmes) é um federale (FBI mexicano, mais ou menos) traído por um barão da droga. 3 anos depois já está nos EUA e cai-lhe uma oportunidade de vingança de pára-quedas...claro que a aproveita e pelo caminho mata tudo e mais alguma coisa, usando como armas preferenciais facas/machetes/os tais saca-rolhas, mas basicamente tudo o que mate causando alguma dor.

Para além disso (mortes a torto e a direito) a história resume-se a mais duas coisas: gajos muito manhosos e gajas muito boas. Sim, para quem julga que o Machete é pouco atraente, o senhor safa-se com as seguintes meninas ao longo do filme: Shé (Michelle Rodriguez, e sim o nome do é uma piada ao Ché), Sartana (Jessica Alba) e April (Lindsay Lohan)!

Para além deste trio feminino, o filme conta ainda com as presenças do mítico Steven Seagal, Don Johnson (o gajo do Miami Vice original!), Jeff Fahey e - surpresa das surpresas! - Robert de Niro. Sim, o mesmo Robert de Niro que já ganhou dois Óscares faz aqui de governador do Texas com um especial desrespeito pelos mexicanos e aprende umas quantas lições de um tal mexicano. O Danny Trejo a dar cabo do canastro ao Robert de Niro, que mundo é este?

É o mundo de Machete, em que nada é sério e, consequentemente, tudo é permitido. É isso que faz o filme divertido; tem algumas cenas mais pesaditas, e uma que poderia causar polémica se o filme fosse mais sério, mas quando a frase mais marcante do filme é "Machete don't text" e posteriormente temos diálogos como:

"Sartana: I thought Machete don't text. Machete: Machete improvise."

temos mais é que desligar o cérebro e viver aquele mundo por alguns momentos.