Sleeping Beauty:
Vindo directamente da Austrália temos um filme que poderia ser italiano. Com uma estética algures entre Io Sono L'Amore e Saló ou os 120 dias de Sodoma Sleeping Beauty pega no título da mais famosa animação da Disney para nos contar a história de Sarah, de seu nome real Lucy, uma estudante universitária que decide ganhar uns trocos com um trabalho altamente sui generis.
O que Lucy tem de fazer é tomar um comprimido que a adormece profundamente enquanto que os clientes da sua patroa (Rachael Blake) fazem com ela o que bem entenderem, excepto penetrá-la. Sim, é uma ocupação estranha num filme estranho. A dado momento Lucy sorri enquanto é inspeccionada fisicamente para mais um trabalho; até ela (sobretudo ela?) se apercebe do ridículo da situação em que está metida. Os clientes, porém, acham-no normal e continuam a fluir, vindos da alta-sociedade australiana.
Creio poder dizer que este tipo de actividades não existirá no mundo real (tal como não existirão as diversões de Saló), pelo menos assim espero. Mas também não hesito em afirmar que as actividades de Lucy enquanto Sarah são uma boa metáfora para algo que todos nós a dada altura constatamos na vida: se houver alguém que pague para se fazer algo, haverá alguém para a fazer.
Dada a estranheza do tópico que filma, a realizadora Julia Leigh (que tem neste o seu primeiro filme) optou por uma estética também ela desconfortável. Toda a história é contada com um formalismo extremo (daí se poder dizer que poderia ser não só um filme italiano, como um filme italiano de há umas décadas atrás) mas que aumenta ainda mais o encanto do filme...se tivesse optado por um visual mais normal o filme poderia ser intolerável, assim a nudez (e há bastante, numa aposta pesada da protagonista, Emily Browning) é assexualizada e mesmo a perversão dos seus clientes é reduzida quando estes nos contam, olhos nos olhos, o que os trouxe àquele quarto.
Sleeping Beauty não é um filme para todos. Será profundamente formal para uns, demasiado sexual para outros e pura e simplesmente demasiado estranho para uns quantos mais, mas se estiverem no grupo daqueles que - como eu - toleram bem essas características vão gostar de ver esta obra. Disse acima que a protagonista (mais habituada a filmes bastante mais light) apostou pesado neste papel, mas para mim a aposta foi ganha.
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