quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Cave of Forgotten Dreams

Cave of Forgotten Dreams:


Meninas e meninos, senhoras e senhores, a divisão de filmes do Canal História apresenta Cave of Forgotten Dreams, o primeiro filme em 3D de um dos últimos realizadores que provavelmente imaginariam a aderir à moda reacendida pelo Avatar.  Verdade seja dita que o uso do 3D é feito ao contrário do normal...
Isto porque este seu novo documentário se passa em grande parte em espaços apertadíssimos e o 3D serve apenas para nos mostrar texturas de paredes, nunca (ou quase) para espetar objectos ecrã fora. Os espaços fechados em questão pertencem à gruta de Chauvet, em França, e neste os meus leitores portugueses estarão a pensar "Grutas? Fogo, granda treta, já fui às grutas de Santo António quando era puto e aquilo até é fixe, mas não vale a pena pagar o bilhete do cinema para ir ver essa m*rda".

Acontece que as grutas de Chauvet não são umas grutas quaisquer. Não são as maiores, nem as mais bonitas, mas dentro delas encontram-se as pinturas rupestres mais antigas jamais encontradas, pinturas essas que se encontram extremamente bem cuidadas por causa de uma derrocada que tapou totalmente a sua entrada e a isolou do resto do mundo. E, lanço-vos a pergunta, quantos anos acham que as pinturas rupestres mais antigas têm? 10.000 anos? Nem pensar! Isso são as segundas mais antigas, estas têm mais do dobro...estima-se que cerca de 32.000 anos.

É verdade, há 32.000 anos atrás um dos nossos antepassados resolveu entrar naquela gruta e pintar umas coisinhas, crê-se que enquanto parte de um local de culto religioso...Jesus Cristo ainda estava longe por isso desenhou uma espécie de minotauros, bem como uma série de animais que na altura viviam por aqueles lados, animais tão estranhos para nós como os ursos das cavernas e Mastodontes mas que - provavelmente - eram tão normais como para nós são os ursos "normais" e os elefantes "normais".

Esta gruta foi descoberta apenas em 1994 quando, quase por acaso, um grupo de espeleologistas sentiu uma corrente de ar a sair da montanha. Conseguiram entrar, exploraram e quando sairam comunicaram a descoberta às autoridades, que rapidamente decidiram fechá-la permanentemente ao público. O que ali está dentro é demasiado importante para ser destruído pelo exalar de milhares de pessoas. É por isso que este documentário é importante, é provavelmente a única vez que irão ver estas imagens de uma forma tão detalhada, em grande escala e num dos melhores usos jamais dados às câmaras e aos óculos 3D.

Para além dessa utilidade didática confesso que não vos posso recomendar muito o filme (a menos que sejam fãs de espeleologia/arqueologia/(pré-)história de arte. Abstraindo-nos do tema, trata-se de um dos piores documentários deste que é um dos meus documentaristas favoritos e que faz lembrar alguns dos seus primeiros projectos: pega-se num tema relativamente limitado e explora-se durante demasiado tempo. Este é o caso, já que não seria muito difícil passa-lo para uma curta metragem, bastava para isso encurtar as entrevistas e, sobretudo, eliminar os monólogos esotéricos sobre coisas como "o que é que o urso das cavernas pensaria ao olhar para estas pinturas?".

Bastaria uma série de planos da gruta, outros das pinturas e uma ou outra entrevista (incluindo aos seus descobridores, vergonhosamente fora do filme), mas aí a coisa era capaz de se aproximar demais de um documentário a passar exclusivamente no canal História, sem óculos 3D. Era capaz de ter sido melhor opção.

Nenhum comentário:

Postar um comentário