quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

The Ides of March

The Ides of March:


Da última vez que o George Clooney decidiu um filme de conteúdo político o resultado foi o Good Night and Good Luck. Vi-o uns meses depois de ter estreado e não vos sei dizer se é bom ou não...vi-o no último dia de exames do meu mestrado e como estava tão cansado adormeci. Do que me lembro, porém, posso dizer que se tratava de um filme a preto e branco com grande ênfase do formalismo de cena e com mais forma que conteúdo.

The Ides of March é a nova aventura do actor tornado realizador pelos campos políticos e neste caso a minha análise é a oposta: a preocupação estilística é menor mas o conteúdo bem mais interessante. Meninas e meninos, senhoras e senhores, adorei este filme.

É verdade que talvez eu não seja o melhor exemplo a ter em conta, dado a minha (relativamente saudável) obsessão por política e, em particular, pelos seus bastidores. Ora, como este é um filme integralmente passado nos bastidores da política norte-americana (neste caso em concreto umas eleições primárias do Partido Democrata, no Ohio) é normal que se calhar tenha gostado um bocadinho mais do que qualquer outra pessoa que não partilhe do mesmo interesse.

Mas não se enganem, este não é um filme só sobre eleições primárias num dos Estados dos Estados Unidos da América. As manobras políticas que aqui se passam poderiam passar-se nas eleições de um qualquer outro partido, Estado ou país...poderiam também passar-se num processo de promoções internas de uma empresa ou numa qualquer candidatura a emprego.

A mensagem que passa é simplisticamente trágica: muitas pessoas fazem o que for preciso para atingir os seus objectivos. Neste caso observamos o trajecto de Stephen Meyers (Ryan Gosling, para quem já me faltam elogios), um jovem de 30 anos que se encontra na posição número 2 da estrutura de suporte da campanha do Governador Mike Morris (o nosso amigo George Clooney, desta feita à frente da câmara). Stephen é ambicioso e de início um pouco naif. É nessa inocência que o líder da campanha rival (Paul Giamatti) vai apostar, montando um esquema que, se correr bem, pode levar à derrota do Governador naquelas eleições e, consequentemente, nas futuras Presidenciais.

O conteúdo do esquema é algo que não vos vou revelar, porque caso contrário tirar-vos-ia grande parte do prazer do filme (adorei o facto de não ter conseguido prever a jogada seguinte enquanto que os protagonistas antecipavam duas ou três jogadas à frente) mas posso dizer-vos que Stephen não vai ficar na mesma, o seu chefe directo (Phillip Seymour-Hoffman) não vai ficar na mesma, o Governador não vai ficar na mesma, o adversário que montou o esquema fica mais ou menos na mesma e Ida, uma jornalista interpretada pela Marisa Tomei, não fica no mesmo sítio. Neste ensaio sobre a lealdade nada ficará de pé e, muito honestamente, o meu queixo ficou muitas vezes caído. 

Gosto muito de política mas não gosto de políticos. É preciso ser-se muito matreiro (para não usar outra palavra) para se conseguir vencer.

P.S.: Pormenor interessante do filme é o chamar-se The Ides of March, numa referência à peça "Julius Caesar", de Shakespeare. Uma referência a Shakespeare é perfeita para uma trama como estas.

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