sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Gasherbrum - Der leuchtende Berg


(eu sei, é um "poster" estranhíssimo, mas tenham em conta que é uma produção para a TV alemã dos anos 80, assim tudo se torna mais claro)  

Era uma vez estes dois senhores, Reinhold Messner e Hans Kammerlander, dois alpinistas que em 1984 decidiram escalar os montes Gasherbrum I e Gasherbrum II (ambos com mais de 8.000m) de uma assentada só, sendo a primeira vez que tal foi feito. Era também uma vez um realizador que gosta de documentar histórias reais mas fora do normal, o Werner Herzog.

Da relação entre os dois alpinistas e o realizador alemão surgiu este filme, que em inglês se chama The Dark Glow of the Mountains, e que tendo por pano de fundo o alpinismo não é, conforme declara abertamente, um filme sobre alpinismo. O foco da história é na análise psicológica daqueles que sabem que estão a arriscar a vida ao subir a uma montanha apenas para dizer que já lá estiveram e é curioso que quando Messner e Kammerlander sobem aos cumes a câmara não os acompanha, prefere esperar cá em baixo para depois falar com eles.

Creio que foi o Sir Edmund Hillary (o primeiro homem a chegar ao cume do Everest) que, quando lhe perguntaram porque é que escalava montanhas, respondeu "Porque elas estão lá". Parece-me uma justificação tão boa como qualquer outra, mas não é partilhada pelos dois montanhistas deste documentário: Messner, muito mais falador e claramente o líder da expedição, fala antes em derradeiro teste de resistência e de um vício tão obsessivo e mórbido (palavras dele) como as drogas.

Messner viu o irmão morrer numa expedição aos montes Dolomitas, uns anos antes da realização deste documentário, e mesmo assim continuou a escalar. Tornou-se o primeiro homem a subir ao Evereste sem auxílio de oxigénio e foi o primeiro homem a subir a todos as 14 montanhas com mais de 8.000 metros de altitude (e subiu-as a todas sem oxigénio, como o nosso João Garcia) e depois deste filme já subiu mais montanhas do que eu vãos de escada. Na última entrevista que dá ao Herzog antes de começar a subida dos dois Gasherbrum esconde o (inevitável) nervosismo com um sorriso e friamente, como se fosse a coisa mais normal do mundo, diz-lhe "Se não estivermos de volta daqui a uma semana volta para trás, não vale a pena procurar ajuda porque ou morremos numa avalanche ou de hipotermia".

Este documentário foi a primeira vez que realmente me apercebi do constante perigo mortal desta actividade e, nem que fosse por isso, valeu a pena tê-lo visto. Recomendo-o a todos os leitores que, como eu, gostam de viajar ou gostavam de subir às árvores quando eram pequenos, só para ver o que estava "lá em cima".

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Crazy, Stupid, Love



Sendo melhor do que esperava Crazy, Stupid, Love é também um filme muito diferente do que estava a contar (e que a promoção do mesmo deixa antever): contava com uma comédia romântica parva e recebi um drama familiar com uns bons toques de comédia. Estão a ver o The Kids Are All Right? É nessa onda, apesar da estética muito mais mainstream e a história ser bem diferente.

Em comum com esse filme tem a Julianne Moore, que aqui é Emily, uma mulher que diz que quer o divórcio ao mesmo tempo que o marido (Steve Carrel, mais discreto/inteligente/interessante que o costume) manifesta o desejo de comer leite creme para sobremesa. Este é o casal principal de Crazy, Stupid, Love, namorados desde os 15 anos, casados há não sei mais quantos e completamente estagnados até que ela se enrola com David Lindhagen, um colega de escritório (bem) interpretado pelo Kevin Bacon.

Para além de Emily e Cal existem outros personagens que sofrem os seus próprios (des)encontros amorosos. O melhor deles é Jacob, pelo menos de início, um personagem do Ryan Gosling que me deixou completamente ansioso para ver o Drive. Trata-se de um engatatão daqueles que passa a vida num bar, bar esse onde Cal vai beber para esquecer o seu divórcio, e que - num momento pouco realista do filme - resolve ajudá-lo num make-over. Claro, que sendo produto de Hollywood, o engatatão do Jacob vai apaixonar-se, neste caso por uma recém-advogada chamada Hannah (Emma Stone) que acabou de acabar com o totó do seu namorado.

Um outro personagem é Robbie (Jonah Bobo), o filho de 13 anos do casal Weaver, que desenvolve uma paixão assolapada por Jessica, a sua babysitter de 17 anos, ela própria com as suas paixões. Robbie tem como professora Kate (Marisa Tomei), que não é muito relevante neste parágrafo mas que não consegui inserir noutro.

Começando na tal proposta do make-over, o filme tem vários momentos irrealistas que nos poderiam distrair ou fazer-nos gritar "cliché!". Felizmente, os próprios personagens reconhecem esse cliché e as improbabilidades da história juntam-se todas num twist tão bom que seria um crime revelá-lo. Havia um sério risco do filme se perder, tipo Friends With Benefits, mas acaba por dar a volta por cima e, apesar de não ir salvar o mundo (parafraseando o Robert Ebert), tornar-se uma opção forte para quando queiram ver um filme filme leve, relaxado, com um bom equilíbrio de emoções e com muito mais gargalhadas que muitas das comédias "puras" que tenho visto.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Melancholia

Melancholia:


Cá estou eu de novo, amiguinhos, e trago-vos mais uma provável estreia a nível de críticas em português. 

Falo de Melancholia, o último filme do Lars von Trier, aquele que ele apresentou em Cannes este ano e depois deu origem à famosa conferência de imprensa. Não, não o saquei; a vantagem de estar de férias é ir a outros países onde posso ver ante-estreias de filmes que por cá devem chegar mais para o fim do ano. E sim, é muito bom; arrisco-me a dizer que a seguir ao Dogville é o meu favorito dele...e notem os que não me conhecem assim tão bem que o Dogville é um dos meus dois filmes favoritos de sempre.

Nos últimos filmes o Lars von Trier tem seguido um esquema semelhante: uma mulher, um tema. Às duplas Bjork/Justiça, Nicole Kidman/Vingança, Bryce Dallas Howard/Liberdade, Charlotte Gainsbourg/Perda podemos agora juntar a Kirsten Dunst/Perda da Inocência. E perda da inocência porquê? Porque neste filme, como na vida, é essa a razão da melancolia: só quem é inocente e desconhecedor da realidade das coisas pode ser feliz, livre desse sentimento que o dicionário define como tristeza profunda e duradoura.

Nos primeiros momentos do filme Justine é uma mulher aparentemente feliz. É o dia do seu casamento e as coisas parecem correr bem com o noivo até ao momento em que a sua mãe - recentemente divorciada - faz um brinde devastador e que leva à tal perda de inocência...depois daquelas palavras Justine não pode voltar à ingenuidade do desconhecimento e por isso perde-se. Uma horinha mais à frente no filme (não sei quanto tempo depois no seu espaço temporal) e vemo-la de volta ao castelo onde festejou o casamento, ainda profundamente deprimida mas ali chamada pela sua irmã Claire (Charlotte Gainsbourg), que por lá vive com o seu marido John (Kiefer Sunderland, num papel fora daquilo a que nos habituou). A razão da chamada é Melancholia.

Este/Esta Melancholia não é um estado de espírito, por muito que sejam homónimos no inglês. Trata-se de um planeta (fictício, leitores mais distraídos) que por força do destino e das trajectórias espaciais passará perto da Terra dias depois do regresso de Justine àquele local. Consoante sigamos a opinião de John ou de Claire trata-se de um momento único de beleza astronómica ou o fim do mundo. A aproximação de Melancholia vai ser, acima de tudo, um catalisador para o desaparecer da tristeza que afecta Justine, ela que por causa daquele evento vai melhorar, numa metáfora e uma lição tão triste como importante mas que não vou revelar aqui.

Infelizmente a tal conferência de imprensa de Cannes fez com que as atenções se debruçassem na polémica e não no filme, o que é uma grande pena. O trabalho de realização é impecável, mantendo algumas escolhas estilísticas de Antichrist (sobretudo no prólogo), as imagens astronómicas impressionantes (será que é moda este ano?), a banda sonora perfeita para o ambiente que se quer criar (oiçam um exemplo no trailer) e o trabalho dos actores de grande qualidade. 

Minto, o trabalho da Charlotte Gainsbourg e do Kiefer Sunderland (bem como dos restantes secundários) é de grande qualidade, o da Kirsten Dunst é pura e simplesmente melhor interpretação feminina deste ano (pelo menos até agora)...não tivesse havido a polémica que houve e era certinho que pelo menos conseguiria nomeações para os principais prémios. Assim não sei, o que sei é que se gostam de filmes de autor, profundos sem ser aborrecidamente intelectuais têm de ir ver este filme, que ao que sei estreia em Portugal a 1 de Dezembro. Usando uma expressão que já aqui usei algumas vezes, Melancholia é um exemplo de como o cinema deveria ser sempre.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Vacances

Com o escriba-mor de férias, o blog de férias está. Os updates voltam a partir de 22 de Setembro.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Stone

Stone:


O realizador deste filme, John Curran, é um realizador pouco conhecido que - descobri eu quando preparava esta SMR - esteve envolvido em dois filmes também eles pouco conhecidos e que sobre os quais tenho opiniões distintas. Por um lado, é o realizador do We Don't Live Here Anymore, um dos feel-bad movies de 2004 e que eu adorei, por outro é o argumentista do The Killer Inside Me, filme que já aqui analisei com uma opinião negativa.

Isto tudo para explicar a sensação que tenho em relação a este filme: podia ser excelente mas acabará por ficar perdido no mundo da mediania.

Se tivesse visto em sala, como queria quando por lá passou em 2010, teria uma opinião diferente? Duvido. O problema do filme está sobretudo no argumento, creio eu, porque não se consegue decidir sobre que tipo de filme quer ser. Tudo começa como um thriller prisional, com muita conversa e agressividade passiva entre Stone (o presidiário) e Jack Mabry, o seu agente de liberdade condicional, mas rapidamente entra em cena mais um personagem relevante (Lucetta, a mulher de Stone) e a história descamba para as suas tentativas de seduzir e chantagear Jack para benefício do marido. Tentando ser uma coisa e outra o filme acaba por não ser nenhuma, o que é uma pena.

Se só se tivesse focado numa das vertentes, ou se tivesse conseguido um melhor malabarismo entre ambas, o filme tinha mesmo muito potencial. O trio de actores principais está em grande, com o Edward Norton a assumir o protagonismo, a Milla Jovovich a mostrar que afinal sabe interpretar um papel com qualidade e, estranhamente, o Robert De Niro a ser o pior dos três e o conceito do filme é interessante. Pena é que as indecisões quanto ao rumo a seguir, algumas más escolhas de casting secundário (aquele Jack Mabry jovem, meu deus) e algumas referências espirituais completamente forçadas (a uma religião chamada Lukangor e ao papel que a religião teve em controlar a agressividade de Jack), fazem com que o trabalho dos actores seja em vão.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Friends with Benefits

Friends with Benefits:

Aqui há um ou dois meses estreou um filme com o Ashton Kutcher e a Natalie Portman. Chama-se No Strings Attached e é tão, mas tão parecido com o Friends With Benefits que quando procurei por um no IMDB aterrei no outro. Não o vou poder comparar com este porque não o vi, mas se a história é semelhante posso arriscar dizer que não é grande espingarda.

Friends With Benefits é a expressão americana para amigos coloridos e ao mesmo tempo um eufemismo fuck buddies. É isso que Dylan e Jamie começam por ser e é por aí que o filme começa. Podia ser uma coisa boa, uma espécie de anti-comédia romântica (como lhe chama a Empire, numa crítica mais positiva que a minha) em que os seus protagonistas já viram muitos filmes da Katherine Heigl e identificam as situações que lhes vão acontecendo, mas...mas há sempre um mas.

Mas a dada altura a história parece que entra nuns carris daqueles da Scalextric e o que poderia ser uma fuck-com (novo género cinemático?) leve mas divertida torna-se numa rom-com altamente previsível e aborrecida, em que a única coisa que não vimos já quinhentas vezes é a sub-história da família de Dylan em Los Angeles, desnecessária e penosa, quando o ainda não casalinho maravilha vai passar o 4 de Julho junto ao mar.

Muito se tem dito sobre a química que existe entre o Justin Timberlake e a Mila Kunis (alguém sabia que ela é ucraniana?). Dizem que é o que faz o filme sobressair e que, fossem outros os actores a interpretar o casal maravilha, o filme já não funcionaria tão bem. Permitam-me discordar, caros leitores, a Mila Kunis vai muito bem (se bem que não sou neutro, já aqui disse que gosto dela) mas o Justin não se safa senão numa cena em que goza com o "personagem" que ele próprio era quando fazia parte dos 'N Sync. O rapaz portou-se muito bem no The Social Network mas aqui não me agradou minimamente, quem diz que ele tem futuro neste tipo de filmes está certo, mas só porque estes filmes são muito pouco exigentes.

No final de contas não é um filme tão doloroso de se ver como o último que analisei, dá para ver num dia em que se queira desligar o cérebro mas não nos leva absolutamente a lado nenhum, nem sequer ao riso.