(eu sei, é um "poster" estranhíssimo, mas tenham em conta que é uma produção para a TV alemã dos anos 80, assim tudo se torna mais claro)
Era uma vez estes dois senhores, Reinhold Messner e Hans Kammerlander, dois alpinistas que em 1984 decidiram escalar os montes Gasherbrum I e Gasherbrum II (ambos com mais de 8.000m) de uma assentada só, sendo a primeira vez que tal foi feito. Era também uma vez um realizador que gosta de documentar histórias reais mas fora do normal, o Werner Herzog.
Da relação entre os dois alpinistas e o realizador alemão surgiu este filme, que em inglês se chama The Dark Glow of the Mountains, e que tendo por pano de fundo o alpinismo não é, conforme declara abertamente, um filme sobre alpinismo. O foco da história é na análise psicológica daqueles que sabem que estão a arriscar a vida ao subir a uma montanha apenas para dizer que já lá estiveram e é curioso que quando Messner e Kammerlander sobem aos cumes a câmara não os acompanha, prefere esperar cá em baixo para depois falar com eles.
Creio que foi o Sir Edmund Hillary (o primeiro homem a chegar ao cume do Everest) que, quando lhe perguntaram porque é que escalava montanhas, respondeu "Porque elas estão lá". Parece-me uma justificação tão boa como qualquer outra, mas não é partilhada pelos dois montanhistas deste documentário: Messner, muito mais falador e claramente o líder da expedição, fala antes em derradeiro teste de resistência e de um vício tão obsessivo e mórbido (palavras dele) como as drogas.
Messner viu o irmão morrer numa expedição aos montes Dolomitas, uns anos antes da realização deste documentário, e mesmo assim continuou a escalar. Tornou-se o primeiro homem a subir ao Evereste sem auxílio de oxigénio e foi o primeiro homem a subir a todos as 14 montanhas com mais de 8.000 metros de altitude (e subiu-as a todas sem oxigénio, como o nosso João Garcia) e depois deste filme já subiu mais montanhas do que eu vãos de escada. Na última entrevista que dá ao Herzog antes de começar a subida dos dois Gasherbrum esconde o (inevitável) nervosismo com um sorriso e friamente, como se fosse a coisa mais normal do mundo, diz-lhe "Se não estivermos de volta daqui a uma semana volta para trás, não vale a pena procurar ajuda porque ou morremos numa avalanche ou de hipotermia".
Este documentário foi a primeira vez que realmente me apercebi do constante perigo mortal desta actividade e, nem que fosse por isso, valeu a pena tê-lo visto. Recomendo-o a todos os leitores que, como eu, gostam de viajar ou gostavam de subir às árvores quando eram pequenos, só para ver o que estava "lá em cima".