terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Vincent will Meer

Vincent will Meer:



Quando na última SMR falei nas pessoas que sofrem de síndrome de Tourette fi-lo propositadamente, como ligação a este filme, o primeiro (e infelizmente único) que vi este ano na Kino – Mostra de Cinema de Expressão Alemã. Um festival e um cinema que, deve dizer-se, mereciam mais destaque em Portugal.

Vincent é o jovem protagonista desta história e “will Meer” não quer dizer “quer mais” mas sim “quer o mar”, ou como a tradução inglesa do título explica: Vincent wants to sea. E porque é que ele quer o mar? Porque é lá que a sua falecida mãe queria as suas cinzas depositadas. Esta ideia é a menos original de uma comédia que consegue ser um pouco diferente do comum.

Diferente porque Vincent (Florian David Fitz) não é um jovem normal. Vincent sofre precisamente de Tourette e quando a mãe morre o pai, mais preocupado com a carreira que com a família, coloca-o numa espécie de centro de reabilitação. Por lá, Vincent – que até é um rapaz calminho – conhece Marie (Karoline Herfurth, a mulher ideal em Perfume: Story of a Murderer), uma anoréxica (magra a um nível Balesco) com vontade de conhecer o mundo e que o consegue convencer a sair dali e levar a sua mãe à morada final que havia escolhido.

A descrição até aqui faz lembrar um Road Trip politicamente incorrecto mas não é isso que acontece. Vincent will Meer está longe de ser um filme de Hollywood e isso nota-se sobretudo na forma realista como trata as doenças dos seus protagonistas. O Tourette não é usado como gag recorrente e forma de dizer palavrões, tal como a anorexia não serve só para tentar forçar uma lição de moral. Aqui as doenças são duras, os personagens choram de frustração, sofrem por não serem normais (sendo que o conceito de normal é bastante subjectivo) e chegam mesmo a sangrar...Isto num filme em que o terceiro dos fugitivos é um obsessivo-compulsivo com problemas em tocar no que quer que seja. É um tratamento realista mas felizmente nada dramático...por cada cena mais pesada o filme mostra-nos duas ou três em que eles estão bem e evita tornar-se deprimente.

Da comédia passa-se para o inevitável romance, e daí para algo muito importante: os personagens crescem. Naquela semana (se calhar até menos) em que estão sem supervisão todos eles são confrontados com os efeitos das suas escolhas e – também nada hollywoodesco – têm de reagir a isso, mantendo-se numa estrada cujo destino é desconhecido ou pedindo para parar, sair e voltar atrás para tentar de novo. Este passeio vai da Alemanha ao Adriático, passando pelos Alpes (a paisagem alpina neste filme é, sem sobra de dúvida, das mais espectaculares que já vi em cinema...de sempre!), mas a principal viagem é interior, às diferenças e semelhanças daquele grupo de desajustados que, no final do filme, estão cada vez mais desejosos de se misturar com o mundo.

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