segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Swans

Olá olá, amiguinhos.

Pois é, hoje venho dar-vos notícia da primeira grande internacionalização deste blog. É verdade! Pela primeira vez estive presente na Berlinale – Festival Internacional de Cinema de Berlim, aquele que está no terceiro lugar da minha lista de festivais de cinema mais importantes do mundo. Ficam a faltar-me Sundance e Cannes.



Infelizmente não posso estar em Berlim a duração do festival todo e mesmo neste fim de semana que lá estive só consegui ver um filme (aquilo esgota mais depressa que garrafas de água no deserto). Ainda assim, tenho o orgulho de vos apresentar a primeira SMR que é ao mesmo tempo provavelmente a primeira crítica publicada sobre o filme analisado. Ou então não é, mas se não for é só mesmo porque sou preguiçoso e tendo visto a ante-estreia mundial no Sábado só hoje é que o estou a analisar.


Leitores, apresento-vos o filme.


Swans:



Uma co-produção luso-germânica não podia ser mais apropriada para a ocasião e foi por isso mesmo que a fui ver. Este é a segundo longa-metragem do realizador português Hugo Vieira da Silva (realizador de Body Rice, que tenho na minha pilha de DVD ainda por ver) e tem muito mais de alemão que de português.

A história é uma de (des)encontros: Manuel e o seu pai, residentes em Portugal, chegam-se a Berlim para visitar a mãe do jovem, que se encontra em coma em consequência de uma quimioterapia altamente agressiva. Manuel nunca tinha antes conhecido a sua mãe e, por isso mesmo, mantém-se distante de toda aquela situação. Mantém-se também distante do pai, com quem – presume-se – tem mais contacto, mas com quem não tem propriamente mais afectividade.

O quotidiano berlinense de ambos passa pelo hospital e por se encontrarem a si mesmos. O coma da mãe serve de catalisador para que ambos se apercebam do seu lugar naquela família.

A Berlim que se vê no filme é tão ou mais distante do que Manuel; vi o filme com berlinenses que me disseram que tirando o aeroporto da cena inicial não reconheceram nada da sua cidade. O filme é propositadamente assim, julgo eu, mantendo-se tão afastado do seu público como afastados estão os seus personagens.

E é aqui que devo fazer uma ressalva: por uma razão qualquer que ainda não consegui racionalizar, gostei deste filme. Gostei dos silêncios prolongados e percebi a intenção do realizador ao forçar um ambiente frio, distante e desconfortável...se é assim que os personagens se sentem é assim que nós enquanto espectadores nos devemos sentir.

Mas por outro lado é com isto mesmo que não consigo concordar. Quis colocar esta questão durante o Q&A que se seguiu à projecção mas achei que não devia estar a ser tão “chatinho” em público, mas fica a pergunta para o Hugo, caso me venha a ler daqui a uns tempos (e para quem me quiser responder, claro, quero lançar o debate): o filme foi feito para o realizador ou para o público? É que este é um fenómeno recorrente no cinema português e confesso que me chateia um pouco. Não sou defensor de filmes popularuchos só porque sim, há espaço para tudo...mas o cinema português parece teimar em não ser acessível. Não estará na altura de mudar esse paradigma? Alterar as metodologias na “escola do cinema português”? Penso que as muitas pessoas que saíram da sala a meio da sessão concordariam comigo.

Eu, que não sendo de todo perito (sou só um gajo que diz para aqui uns disparates) já tenho alguma experiência em ver e analisar filmes, consegui responder às minhas próprias perguntas iniciais: porque é que isto é português? Será que se em vez de ser o Ministério da Cultura e o ICA a financiar isto as origens dos personagens seriam de outro país, provavelmente o país financiador? É que é complicado perceber, por exemplo, que não haja um único actor nacional a fazer quanto mais não fosse de Manuel: o jovem que vive em Portugal desde os 3 anos e que não deveria - como faz - falar única e exclusivamente em Alemão super fluente com o pai, também residente em Portugal desde essa altura.

Apercebi-me da resposta a essas perguntas ao pensar: este é um filme português em que o único interveniente nacional é o realizador (e talvez algum guionista ou director de fotografia, não sei, confesso que não prestei muita atenção aos créditos finais) mas que é – por isso mesmo – um resultado puro e duro da escola portuguesa de cinema: um filme desesperantemente lento em que tinha necessariamente de haver uma cena ofensiva...neste caso (e lá vem o aviso de spoiler para aqueles mais sensíveis) o nosso Manelito que decide apalpar as mamas e fazer outras coisas ainda mais erradas, à falta de melhor expressão, à sua mãe comatosa.

Repito, para que não julguem que se enganaram a ler: eu apesar de tudo gostei do filme. Mas acho que é altura de se dar um salto em frente e mostrar que o cinema português pode ser acessível ao mundo. São obras como esta e atitudes censuráveis como a do realizador, que se recusou a dar algum tipo de resposta a um espectador que lhe perguntou se a sensação de incompleitude que o filme provoca era propositada, que fazem com que os nossos realizadores, com a notável excepção do Manoel de Oliveira - actualmente mais reconhecido pela sua idade que pela sua qualidade enquanto realizador – continuem a não sair de um nicho que ou muito me engano ou é composto maioritariamente por eles mesmos.

A arte deve ser vista como uma interpretação da realidade e uma coisa vos garanto: Portugal e os portugueses não têm nada a ver com o que se vê na maioria do nosso cinema, somos mais espontâneos, sorridentes e afectivos. Custará assim tanto mostrar como realmente somos? O Portugal cinemático não é uma interpretação da realidade, é uma abstracção

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