sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Biutiful

Biutiful:


Ao contrário do que se costuma passar em Hollywood, onde existe muito a tendência de se favorecer a forma sobre o conteúdo (style over substance), o cinema das restantes zonas do globo costuma ser precisamente o oposto, talvez por saber que não conseguem competir a nível de pirotecnia.

Biutiful é um filme de uma das “restantes zonas do globo” (está nomeado para o Óscar de melhor filme estrangeiro pelo México e passa-se inteiramente em Barcelona) mas num certo sentido tem muito de hollywoodesco: é muito mais forma que conteúdo.

Uxbal é o homem que vamos seguir ao longo da história (e o actor que o interpreta, Javier Bardem, vai bem mas já fez melhor). Com ele vêm duas características, uma que me parece praticamente irrelevante e outra que é fulcral. A irrelevante prende-se com uma capacidade que Uxbal tem de falar com os mortos, capacidade que ele explorar para receber algum dinheiro extra e que o realizador explora para nos meter alguns mortos em sítios estranhos. Para além disso, não adianta muito mais à história.

A segunda característica é que Uxbal está doente. A vida já não lhe é propriamente fácil (tem uma ex-mulher/actual pseudo-namorada – Maricel Álvarez - com problemas psicológicos e dois filhos, de ambos, para cuidar) e agora ainda tem de lidar com um cancro. Esta informação é importante porque vai servir de base a todas as movimentações do filme: Uxbal sabe que vai morrer mas – já que tem a tal capacidade que referi antes – sabe que precisa de partir em paz com todos para que possa, espiritualmente, partir.

O facto de este filme lidar com a necessidade de “partir em paz” poderia indiciar algo muito branco e limpinho, e a capacidade do seu protagonista comunicar com espíritos poderia levar-vos a pensar que estavamos perante um novo The Sixth Sense. Nada mais errado, Biutiful é um filme sujo e feio, onde a única beleza provém dos filhos de Uxbal e da neve que estes tanto desejam ir visitar. Tudo o resto é miséria.

Miséria daqueles que não têm dinheiro para alimentar condignamente os filhos, miséria daqueles que vêm de África ou da China em busca de dinheiro e que acabam bem pior do que estavam, miséria que advém de se ter uma doença a qual nos corrói todos os dias um pouco mais, miséria de uma Barcelona que é muito menos Todo sobre mi madre do que é Chungking Express.

Cito esse último filme porque o estilo de Alejandro Gonzáles Iñarritu de certa forma se assemelha à obra-prima de Wong Kar-Wai...o estilo como a cidade nos é apresentada mostranos que a cidade serve apenas e só como fundo – um fundo urbano e degradado – a uma história pessoal. Quem já viu o Alice, obra máxima do cinema português, também poderá encontrar, tal como eu, algumas semelhanças. São aliás filmes parecidos (um homem tenta salvar-se, quase tudo o resto é pano de fundo), só que um é bem melhor que o outro e no final é o outro que tem distribuição mundial e é nomeado para Óscares.

Desde que vi o filme (já há algum tempo...ando atrasado, eu sei!) várias pessoas me perguntaram se gostei ou não do filme. A todas tenho dito que nem por isso, dos 4 filmes do realizador este foi o que gostei menos. Voltando ao parágrafo inicial: esta é uma história complexa mas que, por Uxbal ser pouco expressivo ao ponto de nos alienar (como podem ver no poster ali de cima) e se dar demasiada atenção ao que deveria ser acessório acaba por se focar demasiado na forma em detrimento de uma substância que poderia ser interessante mas é desperdiçada.

5 comentários:

  1. Confirmam-se todas as relações de parentesco. :)

    Não me teria lembrado de fazer a ligação ao filme "Alice", mas é bem vista sim senhor.

    Beijinhos!

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  2. Sou mesmo esperto, eu!
    Estás boa? Gostava de saber de ti..

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  3. Mandaste? Quando? Deves ter o endereço errado porque não recebi nadica de nada.

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  4. que estranho. mandei para jmnpm no hotmail e para subjectivemoviereviews no gmail. Mandei do nainas. vê no spam! ;)

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