sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

The Kids Are All Right

The Kids Are All Right:



No dia em que este filme estreou nos EUA, a 9 de Julho do ano passado, ninguém – desconfio que nem mesmo os produtores do filme – imaginaria que uns meses depois, em Janeiro de 2011 iriam ouvir o seu título na lista de nomeados para o Óscar de Melhor Filme. Não é realmente um tipo de filme que costume estar nestas cerimónias – é uma comédia/drama familiar – mas se calhar porque agora os nomeados a esta categoria são 10 e não 5 lá teve direito a esse bónus que de certeza aumentará o número de espectadores.

The Kids Are All Right é uma história familiar, sim, mas tal como é diferente por ter tido tão importante nomeação (o último do género foi o Little Miss Sunshine, em 2006) também é diferente na sua história.

Não, não me estou a referir apenas ao facto de a família ter duas mães e o elemento que vem desequilibrar tudo ser o dador do esperma que foi usado na concepção dos dois filhos, Joni e Laser (só o melhor nome de sempre). Isso é importante porque traduz novos sentimentos que não costumam ser abordados em filmes semelhantes (não sei o que me passaria pela cabeça se fosse dador de esperma e 18 anos depois o jovem que gerei me telefonasse a pedir para nos encontrarmos) mas no final de contas continuam sempre a ser relações humanas e por isso não muda assim tanto.

O que para mim fez deste filme uma história vencedora é a grande qualidade dos seus intervenientes. A minha admiração pela Julianne Moore já não é de agora por isso com ela não fiquei surpreendido e se a Annette Bening é-me normalmente indiferente aqui gostei dela (se bem que a Julianne é que devia ter sido nomeada para o Óscar de Melhor Actriz, mas está bem), mas são os miúdos (Mia Wasikowska, que anda em todas agora, e Josh Hutcherson) e o Mark Rufallo que fazem este filme sobressair.

Os mais jovens são protagonistas da primeira metade do filme e se é verdade que na segunda passam quase a meros espectadores da quase ruína daquela família, fazem-no sempre a um nível superior ao que normalmente se espera dos filhos neste tipo de filmes. O Mark Rufallo, de quem nunca gostei especialmente faz aqui provavelmente o papel da vida dele...continua com o estilo molengão que sempre teve (e provavelmente o que mais me irrita nele) mas desta vez consegue conjugá-lo com muita pinta e com o mais importante de tudo – uma química enorme entre ele, os filhos e as mães (uma mais que outra, é verdade).

Finalmente, a interveniente mais importante e a razão pela qual o filme vai estar nos Óscares em vez de passar numa matiné de uma televisão qualquer: Lisa Cholodenko. Quem é ela, perguntam-se vocês? É a realizadora, respondo eu, e também a argumentista. Foi ela que desenvolveu esta história, escolheu perfeitamente os actores para os seus personagens, proporcionou esta química toda entre eles e no final editou o filme de uma forma que, não sendo especialmente complexa (de todo), nos deixa com vontade de conhecermos pessoas como aquelas na vida real.

É por isto que o filme mais se distingue...trata de um momento complicado na vida daquelas 5 pessoas mas nunca deixa de ser algo raro no cinema de qualidade, feliz e inteligente.

Tron:Legacy

Tron: Legacy:



“O meu pai ou está morto ou está a curtir na Costa Rica, provavelmente ambos”. Esta frase, proferida no terço inicial do filme e sem qualquer ponta de ironia pelo protagonista de Tron: Legacy, de seu nome Sam (Garrett Hedlund), resume a meu ver muito bem o tipo de filme que estamos a ver...uma série de disparates que servem apenas dois propósitos: efeitos especiais do caraças e light cycles, os meios de locomoção mais cool da história do cinema, a par do hoverboard do Regresso ao Futuro 2.

Tendo estabelecido que os efeitos visuais são o que realmente interessa, passemos desde já ao chamado busílis da questão, sendo que a questão é “Será que vale a pena aturar disparates durante tanto tempo só por causa do eye candy?

A resposta é irrefutavelmente sim. Os efeitos especiais de Tron: Legacy estão ao nível dos do Avatar, sendo que os acho bem mais giros (gosto muito daquele look, confesso), e esta sequela em nada envergonha o original de 1982. Não é um salto tecnológico tão grande, é verdade, mas não deixa de ser do melhor que já vi e de qualquer forma seria impossível suplantar aquele que foi o primeiro filme com efeitos digitais de sempre (!) a nível de avanços tecnológicos.

Sim, pessoas que não têm um geek por perto para vos explicar a razão pela qual este filme é tão importante, estamos perante a sequela de Tron, um filme que usando a premissa de que um programador informático cria um mundo virtual que entretanto ganha vida própria, aproveitou para pela primeira vez na história da humanidade fazer animação digital...qual Toy Story qual quê! Na sequela é o filho desse programador que entra no mundo virtual, que entretanto foi crescendo autonomamente, e tenta fazer uma data de coisas típicas deste género de filmes: salvar o mundo, ir a uma discoteca onde os Daft Punk estão a passar música (a banda sonora do filme é deles e é boa, mesmo para quem normalmente não gosta de música electrónica), lutar até à morte, enrolar-se com miúdas giras (se bem que estas são programas informáticos, inaugurando assim uma nova era de sexualidade) e – claro! – andar na sua light cycle.

É – como já disse – tudo muito típico deste tipo de filmes e tudo muito disparatado. As melhores ideias são as que se aproveitam do filme original, nomeadamente o mundo virtual desenvolver-se independentemente dos chamados utilizadores (nome dado aos humanos no mundo de Tron). É essa a ideia que mais me ficou na cabeça...será que estamos assim tão longe dessa realidade? Actualmente já temos esses mundos virtuais em programas como o Second Life (odeio e não percebo a obsessão dos media portugueses) ou o jogo World of Warcraft; por agora tanto um quanto outro ainda dependem da actividade humana mas será que é assim tão inconcebível que um dia estes mundos comecem a auto-desenvolver-se? Deixo a pergunta para que algum engenheiro informático me responda.

O que é que posso dizer mais para além destas considerações? Posso dizer que o 3D é muito bom (também ele ao nível do Avatar, que continua a ser o standard da indústria mas só até à estreia do Tintim, cheira-me), posso dizer que a técnica para fazer o Jeff Bridges mais novo funciona muito bem e em momento nenhum me pareceu que fosse CGI (como tenho lido alguns críticos a dizer) e – finalmente – posso perguntar uma outra coisa que também não me sai da cabeça sempre que penso neste filme e que agora não vão poder evitar pensar quando o virem: de onde é que apareceu o raio do leitão que ele come com o pai? Será um leitão digital?

E sim...acabei de falar de leitões numa crítica ao Tron. A partir deste momento podem dizer aos vossos amigos quando me descreverem: “aquele gajo é capaz de tudo, mesmo!”.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Cosa voglio di piú

Cosa voglio di piú:



Que mais quero eu? Que mais gostariam vocês de ter? A vossa vida é perfeita? A minha, posso dizer, corre bem, mas não é perfeita: a insatisfação é parte essencial da natureza humana e por muito que tenhamos queremos sempre mais.

Anna (Alba Rohrwacher), a protagonista da história, tem esse problema. Aparentemente a vida dela está bem lançada: não é rica, mas não passa fome, tem um marido que é um bacano (a sério, é das interpretações mais simpáticas de que há memória, os meus parabéns ao actor: Giuseppe Battiston), uma casa que não é má e – muito importante – gosta do trabalho que faz e a sua competência é reconhecida pelo patrão. Até que – e há sempre um "até que" – Anna conhece Domenico (Pierfrancesco Favino) e, como diria a minha mãe, parece que lhe dá uma atacadinha.

De repente, aquela vida que até então era satisfatória torna-se insuportável e a tentação de enviar mensagens a Domenico passa de tentação a realidade e das mensagens passa-se a primeiro encontro, e por aí em diante. Domenico é o típico gajo do cinema (seremos todos assim na vida real? Gosto de pensar que não), dá corda, dá corda, dá corda, diz que a ama quando ela se zanga (como dizia o Robin Williams no seu stand up, a melhor forma de uma mulher garantir que um homem lhe diz que a ama é zangar-se com ele) mas; há sempre um "mas".

Claro que esta crise emocional de Anna tem efeitos em tudo o que a rodeia e é para isso que cá estamos, para acompanhar essa demolição.

O realizador do filme, Silvio Soldini, consegue mantê-lo sempre num grande equilíbrio entre a distância quase voyeuristica e a proximidade àquele casal digamos que informal. Penso que é uma boa estratégia, na medida em que tal como os desejos de Anna (e de Domenico, é preciso dizer-se que Anna não é a má da fita) vão e vêm, também a distância é maior ou menor. Aliás, o problema deste filme não é a execução – os italianos sabem fazer filmes bons e este é mais um – mas sim a duração, que peca por excesso.

No entanto, apesar de ser realmente uma falha, percebe-se que se tenha de comparar a vida anterior e posterior de Anna para que o espectador perceba o que é que está em causa, o que é que Anna está disposta a perder...sem ponto de comparação seria mais uma história de boy meets girl, assim é mais interessante e realista.

Por ser realista é um filme que nos faz pensar em nós próprios, pensamos no que outrora já pensámos e porventura já deixámos de pensar. Não me refiro expressamente à necessidade de aventuras românticas ou sexuais, mas sim ao facto de todos nós – num momento ou noutro – nos termos considerado infelizes quando na verdade somos uns sortudos.

Eu, pela minha parte, não me canso de dizer que tenho uma vida boa e muito honestamente acho que essa é a razão pela qual estou satisfeito com ela. Não lhe chamem ser pouco ambicioso, chamem-lhe efeito bola de neve.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Tulpan

Tulpan:



O realizador de Tulpan, Sergei Dvortsevoy, é um documentarista que aqui tentou o seu primeiro filme de ficção. Se a ideia era apenas contar uma história ficcionada com tudo o resto a parecer bastante real então o objectivo está conseguido e o senhor está de parabéns...não sei se os personagens são interpretados por actores ou por alguém sem experiência, mas se a primeira opção for verdadeira a segunda parece bastante mais razoável.

Tulpan é a história de uma família que vive num yurt nas estepes do Cazaquistão, onde se dedicam à pastagem de ovelhas. Ondas e Asa são os protagonistas antagónicos do filme, mesmo sendo família e vivendo juntos naquele deserto. Ondas é o patriarca, um homem que sabe que a vida é dura e que vive para trabalhar: não aparenta ter sonhos (se bem que tem um interesse peculiar pelas notícias do mundo) e quando não está junto ao seu rebanho parece desligar mentalmente. Asa, por outro lado, é o seu filho mais velho, acabado de chegar da Marinha e com o sonho de assentar arraiais naquela zona e ter a sua família.

A sua primeira (e única) tentativa é Tulpan, a rapariga que dá nome ao filme e a qual nunca vemos propriamente. É a única tentativa porque não existem mais raparigas naquela zona para além das irmãs de Asa. Quando Tulpan rejeita asa por causa do comprimento das suas orelhas (yup, leram bem) a vida do rapaz torna-se um mar de ânsias: o patrão do pai não lhe dá o seu próprio rebanho enquanto for solteiro, a relação familiar não corre nada bem, sobretudo porque Asa não tem mesmo jeitinho nenhum para ser pastor e o seu melhor amigo insiste que deveriam ir para a capital, em busca de dinheiro e mulheres.

Mas Asa está tão ligado à estepe como este filme. É ali que se sente em casa e por muito que a vida seja dura, com tornados frequentes (e muito bem filmados) e uma poeira que me deixaria louco, é ali que a vida para ele é vida. Ele que já viu o mundo, incluindo polvos e tubarões que para os restantes habitantes daquele yurt são criaturas míticas.

Nós ao vermos este filme testemunhamos cenas que poderiam ser um filme realizado pelo meu amigo Diogo ou uma nova versão do Gato Preto Gato Branco: um burro penetrador enquanto uma criança de 3 anos passa à frente, respiração boca a boca a ovelhas, um melhor amigo que está tão perto de ser (medicamente) louco como de ser atrasado mental, etc., etc., etc. Tudo isto é interessante para que se conheça uma realidade que - vista do mundo dito ocidental - parece medieval, mas não estranharei se me disserem que depois de terem visto o filme rapidamente o esqueceram. Acho que é isso que me vai acontecer.