Autrement, la Molussie:
(talvez por isso a sessão a que assisti tenha sido na sala de cinema de um museu?)
Apesar de ter ganho o mais importante prémio do festival, não considero esta obra do francês Nicolas Rey um verdadeiro documentário. Para mim esse género de filmes precisa de passar uma mensagem sobre algo do mundo real e este não é o caso neste filme.
Partindo do livro "Die molussische Katakombe", do escritor-filósofo alemão Günther Anders, em que dois prisioneiros partilham histórias sobre a Molussia, fictício país dominado por um ditador fascista - tal como a Alemanha natal do autor na altura em que o escreveu, os anos 30 -, Nicolas Rey filmou 9 capítulos em 9 bobines diferentes, as quais conjuga de forma aleatória em cada uma das sessões.
Tal ideia pode ser vista como um mero gimmick - até eu o acho um bocadinho, confesso - mas acredito que até acaba por trazer algumas diferenças interessantes a cada visualização. As 9 bobines - todas elas autónomas, analógicas e filmadas em câmaras sui generis - permitem uma observação avulsa que no final apresenta uma ligação narrativa desconexa mas com a proximidade de fazer parte da mesma obra completa.
As imagens de Autrement, la Molussie são quase sem excepção de uma beleza etérea profunda e o conteúdo das narrações que as acompanham é muito interessante (deu-me pena saber que o livro não está traduzido para nenhuma das línguas que entendo) mas realmente não posso as posso considerar um verdadeiro documentário e, como tal tenho de vos deixar o aviso de "conteúdo por vezes demasiado artístico".
Enquanto discussão filosófica do fascismo Autrement, la Molussie atinge o objectivo (tal como - presumo - o livro que lhe serviu de inspiração), enquanto conjunto de imagens bonitas de se observar também, e muito, mas Autrement, la Molussie pertence muito mais a um museu que a uma sala de cinema.
(talvez por isso a sessão a que assisti tenha sido na sala de cinema de um museu?)
Nenhum comentário:
Postar um comentário