Como referi na anterior SMR uma coisa curiosa da "awards season" é que a seguir a ela ficamos sempre umas boas semanas sem bons filmes a estrear. Assim, em vez de ir ver o Hall Pass ou o Morning Glory resolvi actualizar a minha lista de filmes oscarizáveis deste ano e ver o The Fighter, último dos grandes nomeados que não vi e, sem dúvida, uma melhor aposta.
E agora a SMR propriamente dita.
Muitas vezes o maior entrave à verdadeira grandeza é um pequeno pico de glória a que nos deixamos prender. É isto que acontece com Dicky Eklund (Christian Bale, tão bem como seria de esperar mas mesmo assim pior que o Geoffrey Rush no The King's Speech), um boxeur de Lowell, Massachusetts que, preso à glória de um dia (quase) ter deixado K.O. o Sugar Ray Leonard nunca mais foi ninguém, acabando por se deixar cair no mundo da droga.
O The Fighter do título não é, porém, a de Dicky mas sim a do seu irmão mais novo, Micky Ward (Mark Whalberg), também ele boxeur e também ele a travar uma luta particular.
Neste caso o seu adversário não são as drogas, o seu adversário é a sua própria família...o seu irmão Dicky e sobretudo a verdadeira máfia feminina liderada sua mãe/manager. Posso assegurar-vos que é um adversário temível..lembram-se do Joe Pesci no Goodfellas? Estas mulheres são feitas da mesma fibras.
Claro que Micky não vai lutar sozinho. Como em tantos outros filmes do género será uma mulher a ajudá-lo. A dada altura surge na sua vida Charlene (a adorável Amy Adams, mesmo num papel mais duro que o costume) e ela vai servir como raio de Sol no que toca à sua família e carreira. É Charlene que o vai fazer perceber que para ter uma verdadeira "shot at the title" Micky precisa de largar o amadorismo familiar e profissionalizar-se. Esquecer o irmão e arranjar um treinador a sério.
Foi com Charlene que Micky deixou de ser um saco de pancada para se tornar um campeão e sim, leram bem, o tempo verbal é o correcto. Todas estas pessoas existem e quem assistiu à cerimónia dos Óscares deste ano pode ver os irmãos pugilistas no Kodak Theatre enquanto convidados das estrelas que os interpretaram.
É curioso como um desporto tão limitado a nível de apelo às massas seja tão prolífico no cinema...o boxe já deu Óscares a pessoas tão díspares como o Robert de Niro e o Sylvester Stallone. Uma possível razão é o dramatismo do que se passa dentro do ringue, com todo o sangue, suor e por vezes lágrimas (e por vezes pedaços de orelha, claro) e em The Fighter é mesmo dentro do ringue que a sua qualidade sobressai ainda mais: estamos perante um filme bastante bom mas que perderia quando em comparação com o Raging Bull ou mesmo o Rocky. As suas cenas de combate são, no entanto, as melhores que já vi.
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