sexta-feira, 16 de julho de 2010

Sin Nombre

Sin Nombre:



Ao longo deste filme aparece muitas vezes um comboio, enquanto transporte de gente sem grande esperança. vítimas da miséria a que são forçados na América do Sul. O seu desespero e as condições atrozes de que são vítimas fizeram-me pensar constantemente no que os judeus terão sofrido a caminho dos caminhos de concentração.

Estes viajantes têm, porém, algumas diferenças: não caminham para a morte (pelo menos para uma morte certa), não são transportados em vagões de animais (viajam no topo, clandestinamente) e - mais importante - fazem esta viagem, rumo ao El Dorado que são os EUA, voluntariamente.

O ser uma decisão voluntária infelizmente não conta muito. É um voluntariado à força. Todas aquelas pessoas, que este filme tão bem retrata mostrando-nos uma face suja da América do Sul, são basicamente forçadas a emigrar, quando vivem na miséria nos seus muitos países de origem e vêm na fronteira Norte do México uma passagem para um mundo de prosperidade.

É este o grande tema de Sin Nombre, o rumo a Norte a que milhares de sul americanos são forçados (voluntariamente) a tomar, mas tal como a sinédoque mostra o todo pela parte, também aqui nos focamos numa história mais concreta, uma história de amor, também ele imposto.

A história de amor de Sin Nombre é aquela que surge entre Sayra (uma jovem hondurenha que viaja no tal comboio) e El Casper, um membro demasiado sensível do gang Mara Salvatrucha (o gang mais violento dos tempos recentes, leiam o link para ver do que falo) que a salva de ser violada por Lil' Mago, líder do gang, excelentemente interpretado por Tenoch Huerta, que conseguiu a proeza de me fazer pensar que era ou tinha sido realmente membro da Mara.

Para a salvar da violência El Casper usa a violência também, matando o Lil' Mago mesmo sabendo que no mundo dos gangs isso significa certamente a sua morte. É por isso que El Casper segue no mesmo comboio e, de certa forma, é salvo por Sayra.

A relação entre os dois é uma boa metáfora para este mundo da imigração "a salto"...ambos se conhecem por causa da pobreza e da violência, El Casper é forçado a seguir a norte, e - chegados ao fim da linha do tal comboio que os leva ao longo do filme, terão de lidar com nova violência, medos e expectativas frustradas.

Dos milhares de pessoas que fazem esta viagem, nem metade consegue passar a fronteira, sucumbindo à policia ou - pior - àqueles que se aproveitam da sua situação Neste filme nem todos chegam ao fim, mais cedo ou mais tarde são também vítimas das suas fragilidades, mas o filme tem o mérito de abrir uma válvula de escape, uma réstia de esperança.

Não se tratando de um documentário (apesar de ter achado que nos mostra muito bem como é a vida desta gente, sobretudo a dos homies da Mara Salvatrucha) Sin Nombre é um bom espelho do que se está a passar agora mesmo, enquanto lêem esta SMR, algures no México. Gente como qualquer um de nós mas com muito menos opções, e que luta literalmente pela sua vida no topo de um qualquer vagão de mercadorias.

Por eles deveriam ver este filme, aprender a sua história. Por eles deveriam deixar passar algumas limitações que este filme - há que admitir - tem.

Shrek Forever After

Shrek Forever After:


Todos os filmes bem sucedidos provocam aos seus fãs uma série de questões relativamente ao futuro: será que vai ter sequela(s)? será/serão boas?

O Shrek, que parecendo que não já tem 9 aninhos de idade, é ainda hoje a minha comédia de animação favorita e, como era de esperar, já deu origem a três sequelas. Destas, o Shrek Forever After (que, supostamente, é mesmo o último filme deste ogre...consta que se vai reformar e viver para Miami) não é a pior (Shrek the Third) mas também não é a melhor (Shrek 2), está ali no meio.

Em Shrek Forever After revisitamos os eventos do primeiro filme, não na perspectiva de outro personagem (como muitas vezes se faz) mas partindo da premissa de que através de um contrato com o Rumpelstiltskin (raio de nome!) volta a ser um dos seres mais temidos de Far Far Away, ao contrário da atracção turística em que se tornou depois de assentar com Fionna. (Não é spoiler em relação aos primeiros filmes, pois não?)

A partir desta premissa, e revisitando alguns pontos da história (sim, sei que já disse isto), aprendemos que - tal como é comum nos filmes que apelam a crianças e jovens - esta história tem uma moral: cuidado com o que desejas, que pode tornar-se realizado.

É que depois de assinar o tal contrato com o tal senhor com o nome esquisito o Shrek apercebe-se que o que gosta mesmo é da vida em família que tinha e vai lutar para que consiga ter isso de volta. Se tem ou não é o menos relevante, o que interessa para o filme são as inúmeras aventuras em que se tem de meter com os seus companheiros de sempre (Donkey, que continua a ser interpretado genialmente pelo Eddie Murphy e Puss in Boots), mesmo que eles não se lembrem que são amigos.

De entre os 4 filmes, e se bem me recordo dos outros 3, este é o que dá mais prioridade à acção e por causa disso temos uma série de sequências empolgantes e que usam muito bem o 3D da moda (sim, e qualquer dia falarei mais prolongadamente desta moda...que raio!). Mas felizmente a comédia continua lá.

É frequente dizer-se que é preciso ser-se adulto para perceber os filmes do Shrek na sua totalidade. Concordo e gosto disso, se por um lado uma criança adora o humor mais físico e os disparates do Donkey, alguém mais velho (como eu, que já ando a cair da tripeça) pode divertir-se com as centenas de referências culturais que vão aparecendo.

É por isto que o Shrek funciona tão bem. É entretenimento realmente para todos...e se muitas vezes alargar horizontes pode diluir os conteúdos, aqui (e sobretudo no filme original) a coisa flui e torna-se difícil de imaginar alguém a sair insatisfeito do cinema.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Hot Tub Time Machine

Hot Tub Time Machine:


Quando vejo um filme que quero mesmo ver faço questão de não ler nenhuma crítica, para o poder ver com o menor número de ideias pré-concebidas possível, mas quando um filme não me puxa assim tanto - como era o caso deste, cujo trailer é horrível - gosto de ler as críticas da Empire e do Roger Ebert para ver se me convencem.

E foi assim, enquanto leitor de críticas a filmes que não quero ver, que o senhor Roger Ebert me tramou: como é que é possível dar 3 estrelas (em 4) a este trambolho?!?!?!?

Realmente a coisa de início poderia suscitar algum interesse e ter algum potencial: 3 homens e um adolescente (representados por alguns actores bastante conhecidos) num filme que tenta ser um misto the The Hangover e Back to the Future, com um título ao nível do Snakes on a Plane. O problema é que a concretização não chega aos calcanhares da premissa e torna-se precisamente um trambolho...uma amálgama de referências que não pegam e um claro esforço em ter piada.

Ora, todos nós sabemos que quando é preciso haver esforço para se ter piada normalmente não se tem piada. A comédia é, por natureza, dependente de bons timings e não me lembro de durante este filme me rir uma única vez...tudo parece fora de tempo e, acima de tudo, demasiado esforçado.

A história é claramente inspirada no Back to the Future, mas aqui em vez de usarem um Delorean (que apesar de tudo faz mais sentido) são transportados para os anos 80 num jacuzzi. Sim, é assim tão mau! Chegados lá, sem nos apercebermos disso porque parece que se esqueceram da cena do transporte, têm de fazer tudo exactamente igual para que não se dê um Efeito Borboleta (sim, no filme falam do filme) e é basicamente isso, durante hora e meia somos forçados a ver tentativas frustradas de ter piada, ao ponto de ser doloroso assistir aquilo, e não nos sentimos minimamente interessados no futuro daqueles quatro infelizes. Só queremos saber como é que ele perde o braço (se virem percebem) e esperar pelos créditos.

Se quiserem comédias com viagens no tempo, vejam o Back to the Future (o meu filme favorito quando tinha uns 12 anos), se quiserem comédias em que 4 gajos se vêm em problemas num contexto anormal vejam o The Hangover, se quiserem ver uma comédia sem piada então esta sim é uma grande opção.

Como é que se dão boas notas a isto? Não sei, eu não vi no cinema (como sabem que gosto de ver) mas mesmo assim acho que não mudaria nada nesta crítica. A única safa, para alguns de vocês, poderia ser a banda sonora com alguns clássicos dos anos 80 (e Black Eyed Peas...é melhor nem começarmos a falar dos Black Eyed Peas!), mas a mim nem isso me convenceu.

Ainda nos minutos iniciais do filme um dos personagens diz "How much worse can it get?". Está tudo dito!