Há muito que não passava tanto tempo de olhos fechados durante uma sessão de cinema!
Não tenho por hábito dormir em salas de cinema. Por muito cansado que esteja consigo (quase) sempre manter-me de olhos abertos e ver o filme com atenção, sendo a única excepção que me recordo o Topsy Turvy, e mesmo esse só adormeci em condições muito especiais.
Em Crossing the Bridge, um filme de Fatih Akim realizado antes do aqui analisado Soul Kitchen mas só agora exibido (pelo menos perante os meus olhos) também não adormecei. Apanhei-vos não foi, marotos? Passei muito tempo de olhos fechados porque num filme em que a música assume todo o protagonismo valeu a pena apreciar assim mesmo o som que vem do magnífico sistema de som do São Jorge.
Já tinha dito na SMR ao Soul Kitchen que a banda sonora era de primeira qualidade e aqui pude confirmar que o realizador tem muito bom gosto musical. Neste filme resolveu explorar as várias cenas musicais de Istambul, capital do seu país de origem, desde a música tradicional ao hip-hop, e o resultado final é - a nível sonoro - muito bom.
Ao longo da hora e meia do filme é Alexander Hacke (baixista dos Einstürstende Neubaten) que nos guia pelas ruas de Istambul para nos apresentar algumas das suas descobertas musicais. É curioso que apesar do título e do foco geográfico do filme a cidade em si não tem muito protagonismo, sendo pouco explorada enquanto espaço urbano mas apenas como ponto de encontro de culturas musicais diversas.
É por isso que não somos apresentados a monumentos como a Hagia Sophia ou ruas como a Ataturk Boulevard e quando os vemos é mais por recurso a imagens de arquivo que propriamente com filmagens feitas pelo realizador. O (excelente) trabalho de Fatih Akim neste filme é sobretudo o de fazer uma excelente edição de imagem e som, em que a música, as entrevistas e as opiniões do narrador se fundem de uma forma tão boa que não queremos deixar de conhecer mais aprofundadamente aquela música. O único problema é, a meu ver, o ter optado pela música mais calma para o final do filme...em termos de energia do público a coisa provavelmente funcionaria melhor ao contrário.
Se são apaixonados por Istambul e não se interessam muito por música não vale a pena. Se são como eu (e muitos de vocês são, que eu bem sei) e têm na música uma outra grande paixão toca a ver este filme e a descobrir (consoante o gosto) os Baba Zula, os Duman, os Replikas, o Ceza ou Orhan Gencebay (vale a pena carregar no link nem que seja só para ver O bigode). Eu gostei de os descobrir e posso confirmar que já estou a fazer as minhas próprias explorações.
O filme passa de novo dia 23 às 23h.
P.S.: Um pormenor que quase ninguém reparou, aposto, é que foi o Andrew Bird a fazer a edição de filme. Não é o Andrew Bird que muitos de vocês podem conhecer do meio musical, mas isso não interessa nada!
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