domingo, 15 de agosto de 2010

Day & Night + Toy Story 3

Antes de começar quero deixar um pedido de desculpas pelas poucas actualizações do blog, mas tenho andado de férias (e a trabalhar em sítios sem net) pelo que têm de esperar até Setembro por um ritmo de actualizações mais frequente.

Day & Night:


Se bem me lembro, todos os filmes da Pixar têm (nas suas exibições no cinema) uma curta. Esta é a curta que vem com o Toy Story 3 e é a mais simples das que vi. Não quer isso dizer que seja má.

É simples mas ao mesmo tempo complicado de explicar: estou há uns minutos a tentar colocar em palavras a sua história...basicamente vemos um ecrã negro com duas figuras muito básicas...uma delas tem no seu corpo o dia, e a outra a noite. Ou seja, todo o ecrã é negro menos o corpo dos bonecos que, num excelente efeito 3D, apresenta várias situações de dia e de noite.

É mais ou menos isto, e têm mesmo de ver (e espreitar o poster com mais atenção) para perceber. O que interessa é que é uma curta engraçada, que não tem nada a ver com o Toy Story 3, mas que nos mostra - tal como o Toy Story 3 - que a Pixar é tão brilhante como a cabeça da sua mascote.


Toy Story 3:



Já muitos aqui sabem da minha paixão pelo Wall.E, que continua a ser o meu filme Pixar favorito. Pois bem, desta vez teve competição à altura.

É claro que estes dois filmes não têm nada a ver: este tem personagens já conhecidos, tem mais comédia e menos baratas, mas tanto um como outro são filmes de animação que pura e simplesmente estão num nível tão alto de qualidade que não ficam atrás de qualquer outro filme de imagem real (como muita gente muitas vezes os vê).

Anyway, aproveitando o interregno de 11 anos desde o Toy Story 2, os argumentistas fizeram o mundo do filme avançar também 11 anos e, como tal, o pequeno Andy (que continua com o mesmo humano a dar-lhe a voz, pormenor de making of bastante interessante) que brincava com o Woody, o Buzz, etc., cresceu - vai para a faculdade! - está mais virado para outras coisas.

E como é que brinquedos que não são brincados se sentem? É essa a pergunta inicial do filme...em que aqueles brinquedos que sobraram dos primeiros filmes (e quantos de nós não passaram por aquele momento de escolher brinquedos?) se deparam com uma dúvida existencial: o que é que lhes vai acontecer quando o dono sair de casa? No fundo faz-se um paralelo com aquilo com que muitos dos leitores mais velhos já passaram...agora que vou sair da escola, como vai ser a minha vida?

Só que enquanto as nossas opções são trabalhar/continuar a estudar/coçar a micose, para os brinquedos tudo se resume ao lixo (terror!), ser doado ou ao sótão e a consequente espera por novas brincadeiras...a opção escolhida (não pelos bonecos, tal como muitas vezes não somos nós a decidir o nosso futuro) é a doação, e as coisas não vão correr bem.

Esta é a premissa, o resto da história, como digo sempre aqui, não a vou contar, mas contem com a melhor comédia dos últimos anos (duas palavras: modo espanhol), sequências de acção muito bem realizadas (mais que duas palavras: a sequência inicial é perfeita a retratar as brincadeiras infantis) e - como é típico - uma lição de vida para acabar o filme em grande.

Quem ler isto e ler a SMR ao último Shrek pensa que são filmes ao mesmo nível...não são. O Shrek Forever After é uma boa comédia, mas este é um filme excelente, cheio de pormenores deliciosos (os Trolls, senhor, os Trolls!) e que - acho que posso dizer isto - é, a par do City of Life and Death, o melhor filme que vi este ano.

E, provavelmente, o filme mais completo que vi em 2010 Uma mistura perfeita de emoções que prova que Pixar não sabe mesmo fazer maus filmes.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Inception

Inception:



Antes de mais, a minha opinião sobre uma questão que cada vez se coloca mais: não, o Christopher Nolan não é o novo Kubrick. Kubrick só há um, o original e mais nenhum. E se é verdade que o Christopher Nolan é, talvez, o realizador desta geração que mais se assemelha a ele (e até nos dá piscadelas de olho, numa das cenas deste filme) também não deixo de achar que ainda precisa de comer muita papinha para chegar ao nível do mestre.

Mas anyway...o Inception é BOM. É um daqueles filmes que só poderiam ser feitos agora, já que vive muito da verosimilhança das cenas dos sonhos e sim, é um filme que poderia interessar ao Kubrick, mas este provavelmente não deixaria passar algumas das suas falhas: é um bocado longo; tem demasiada acção (pelo menos para mim, que adoro filmes de conversa) e - como li numa outra crítica - usa como base uma ideia bem mais simplista que toda a sua realização.

São estas as críticas, venham agora os correspondentes elogios: nem por um minuto me apercebi, dentro da sala, que passaram 2h30; a acção é muito bem realizada (pelo menos para mim, que não gosto muito de filmes de acção) e - como li numa outra crítica - a ideia base deixa de ter importância perante a excelência com que depois é posta em prática.

Como já devem ter lido, Inception é o nome do filme e é também o nome de uma técnica para implantar ideias na mente das pessoas, usando como veículo os seus sonhos. É, como dizem os colegas de Cobb (Leonardo DiCaprio, cada vez melhor actor!), uma acção extremamente complicada mas possível...e se é possível (e houver alguém que pague) então Cobb faz. Até porque só assim é que poderá voltar para junto da sua família (não interessa estar a explicar porquê, vejam o filme).

Para conseguir fazer essa inception, Cobb e os seus colegas (entre eles o também cada vez melhor Joseph Gordon-Levitt) terão de penetrar em três níveis de sonho: um sonho dentro de um sonho dentro de um sonho. Se forem bem sucedidos Cobb está safo e pode voltar, se não corre o risco de nunca mais sair de um lugar onde já esteve...o limbo (não o católico, que esse fechou há uns anos) .

Cabe-nos a nós interpretar se a missão teve sucesso ou não, saber se o pião continua a girar.

O guião, também ele "filho" do realizador (e aqui está uma característica semelhante ao Kubrick), é sem dúvida o ponto forte do filme...se apenas num plano de realidade(s) é dificílimo escrever uma história suficientemente simples para ser entendida e suficientemente complexa para ser interessante imagino o trabalhão que não deve ter sido para dar um equilíbrio perfeito a uma história em diversos planos. E se o guião é brilhante, o trabalho de edição é também fantástico, precisamente pelas mesmas razões, e merece ser lembrado quando vier a época dos galardões.

Numa altura em que o 3d está na moda, Inception mostra-nos que não precisamos de óculos xpto para haver profundidade: aqui temos uma história brilhante, uma realização brilhante e um filme que tanto tem diálogos extremamente bem concebidos (a cena mais importante é um flashback em que nada mais se passa para além da conversa) como pode competir com a melhor acção, tendo tempo ainda para duas ou três piadas que deixaram toda a plateia a rir.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

The Boy in the Striped Pyjamas

The Boy in the Striped Pyjamas:


Quando o objectivo é ver um filme, 21 pessoas numa (parte de) sala com cerca de 5 m2 nunca dá bom resultado, mas neste caso até posso dizer que foi a melhor forma possível de ver esta manipulação emocional disfarçada de filme. Assim sempre se salvou o convívio.

Eu explico-me. Na tentativa de nos fazer chorar com a história de duas criancinhas, o argumentista (e realizador) Mark Herman achou que não haveria problema em fazer algumas "pequenas" alterações históricas que, no fundo, fazem com que esta história mereça o epíteto de revisionista.

Senão vejamos: Bruno (Asa Butterfield, bem irritante), o filho de 8 anos de um comandante nazi, dada a nova função do pai enquanto administrador de um campo de concentração é posto a viver junto desse campo, que ele vê como uma quinta em que todos os agricultores andam de pijama. Aí, e dado que tem livre acesso ao exterior do campo (como decerto acontecia na altura! *ironia alert!*) faz amizade com um outro miudo de oito anos, Shmuel (o melhor mas não bom Jack Scanion), que não só não é obrigado a trabalhar como tem a oportunidade de ficar todos os dias a conversar junto das cercas do campo.

Onde estavam os guardas? Onde estavam os maus tratos e os trabalhos forçados? Mas ainda há mais...

Não satisfeitos com isto, os dois miúdos resolvem jogar à bola e xadrez através da rede (algo que acontecia frequentemente, aposto) e - tão fácil que era! - escavar por baixo da cerca para que o alemão pudesse entrar no campo, vestir um dos famosos "pijamas" e ajudar a encontrar o pai do judeu. Sem comentários.

Mas claro que o filme nos tenta dar alguns sinais de realismo, usando clichés atrás de clichés ("eles não são realmente humanos, filho") e cai até em moralismos (na óbvia cena final, a única filmada com alguma qualidade) mas que acabam afogados nos sotaques completamente british dos personagens (algo muito em voga nos anos 50, mas que não faz sentido nos cinema actual) e nas suas falas completamente genéricas.

Com esta tentativa de misturar um A vida é bela com um qualquer dramalhão da 2ª Guerra Mundial, Mark Herman não só fez um mau filme como - opinião inédita neste blog - prestou um mau serviço à humanidade.

Esta história podia ser bem contada, mas o seu contexto histórico é demasiado grave e sério para que se brinque assim com ele. A memória dos mais de 6 milhões de mortos nestas "quintas em pijama" merecia mais respeito!