Quando o objectivo é ver um filme, 21 pessoas numa (parte de) sala com cerca de 5 m2 nunca dá bom resultado, mas neste caso até posso dizer que foi a melhor forma possível de ver esta manipulação emocional disfarçada de filme. Assim sempre se salvou o convívio.
Eu explico-me. Na tentativa de nos fazer chorar com a história de duas criancinhas, o argumentista (e realizador) Mark Herman achou que não haveria problema em fazer algumas "pequenas" alterações históricas que, no fundo, fazem com que esta história mereça o epíteto de revisionista.
Senão vejamos: Bruno (Asa Butterfield, bem irritante), o filho de 8 anos de um comandante nazi, dada a nova função do pai enquanto administrador de um campo de concentração é posto a viver junto desse campo, que ele vê como uma quinta em que todos os agricultores andam de pijama. Aí, e dado que tem livre acesso ao exterior do campo (como decerto acontecia na altura! *ironia alert!*) faz amizade com um outro miudo de oito anos, Shmuel (o melhor mas não bom Jack Scanion), que não só não é obrigado a trabalhar como tem a oportunidade de ficar todos os dias a conversar junto das cercas do campo.
Onde estavam os guardas? Onde estavam os maus tratos e os trabalhos forçados? Mas ainda há mais...
Não satisfeitos com isto, os dois miúdos resolvem jogar à bola e xadrez através da rede (algo que acontecia frequentemente, aposto) e - tão fácil que era! - escavar por baixo da cerca para que o alemão pudesse entrar no campo, vestir um dos famosos "pijamas" e ajudar a encontrar o pai do judeu. Sem comentários.
Mas claro que o filme nos tenta dar alguns sinais de realismo, usando clichés atrás de clichés ("eles não são realmente humanos, filho") e cai até em moralismos (na óbvia cena final, a única filmada com alguma qualidade) mas que acabam afogados nos sotaques completamente british dos personagens (algo muito em voga nos anos 50, mas que não faz sentido nos cinema actual) e nas suas falas completamente genéricas.
Com esta tentativa de misturar um A vida é bela com um qualquer dramalhão da 2ª Guerra Mundial, Mark Herman não só fez um mau filme como - opinião inédita neste blog - prestou um mau serviço à humanidade.
Esta história podia ser bem contada, mas o seu contexto histórico é demasiado grave e sério para que se brinque assim com ele. A memória dos mais de 6 milhões de mortos nestas "quintas em pijama" merecia mais respeito!
vi à tempos e também achei fraco, e depois de ler esta review a reacção foi: "realmente"...
ResponderExcluirEu estava à espera de algo meio manhoso, mas nunca imaginei que fosse tão mau!
ResponderExcluirTambém detestei o filme. No entanto, a tua crítica está muito boa.
ResponderExcluirObrigado, dona Lara. As próximas duas (sim, já tenho duas em fila de espera) serão mais positivas :P
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