Ao longo deste filme aparece muitas vezes um comboio, enquanto transporte de gente sem grande esperança. vítimas da miséria a que são forçados na América do Sul. O seu desespero e as condições atrozes de que são vítimas fizeram-me pensar constantemente no que os judeus terão sofrido a caminho dos caminhos de concentração.
Estes viajantes têm, porém, algumas diferenças: não caminham para a morte (pelo menos para uma morte certa), não são transportados em vagões de animais (viajam no topo, clandestinamente) e - mais importante - fazem esta viagem, rumo ao El Dorado que são os EUA, voluntariamente.
O ser uma decisão voluntária infelizmente não conta muito. É um voluntariado à força. Todas aquelas pessoas, que este filme tão bem retrata mostrando-nos uma face suja da América do Sul, são basicamente forçadas a emigrar, quando vivem na miséria nos seus muitos países de origem e vêm na fronteira Norte do México uma passagem para um mundo de prosperidade.
É este o grande tema de Sin Nombre, o rumo a Norte a que milhares de sul americanos são forçados (voluntariamente) a tomar, mas tal como a sinédoque mostra o todo pela parte, também aqui nos focamos numa história mais concreta, uma história de amor, também ele imposto.
A história de amor de Sin Nombre é aquela que surge entre Sayra (uma jovem hondurenha que viaja no tal comboio) e El Casper, um membro demasiado sensível do gang Mara Salvatrucha (o gang mais violento dos tempos recentes, leiam o link para ver do que falo) que a salva de ser violada por Lil' Mago, líder do gang, excelentemente interpretado por Tenoch Huerta, que conseguiu a proeza de me fazer pensar que era ou tinha sido realmente membro da Mara.
Para a salvar da violência El Casper usa a violência também, matando o Lil' Mago mesmo sabendo que no mundo dos gangs isso significa certamente a sua morte. É por isso que El Casper segue no mesmo comboio e, de certa forma, é salvo por Sayra.
A relação entre os dois é uma boa metáfora para este mundo da imigração "a salto"...ambos se conhecem por causa da pobreza e da violência, El Casper é forçado a seguir a norte, e - chegados ao fim da linha do tal comboio que os leva ao longo do filme, terão de lidar com nova violência, medos e expectativas frustradas.
Dos milhares de pessoas que fazem esta viagem, nem metade consegue passar a fronteira, sucumbindo à policia ou - pior - àqueles que se aproveitam da sua situação Neste filme nem todos chegam ao fim, mais cedo ou mais tarde são também vítimas das suas fragilidades, mas o filme tem o mérito de abrir uma válvula de escape, uma réstia de esperança.
Não se tratando de um documentário (apesar de ter achado que nos mostra muito bem como é a vida desta gente, sobretudo a dos homies da Mara Salvatrucha) Sin Nombre é um bom espelho do que se está a passar agora mesmo, enquanto lêem esta SMR, algures no México. Gente como qualquer um de nós mas com muito menos opções, e que luta literalmente pela sua vida no topo de um qualquer vagão de mercadorias.
Por eles deveriam ver este filme, aprender a sua história. Por eles deveriam deixar passar algumas limitações que este filme - há que admitir - tem.