domingo, 4 de outubro de 2009

Sicko

Sicko:



Desde há muito que acompanho os documentários do Michael Moore. Vi todos os filmes desde o Bowling for Columbine, acompanhei as séries TV Nation e An Awful Truth e li dois ou três livros destes.

Sempre gostei do que vi e li, concordo com muitas das opiniões dele, embora a maior parte das vezes o faça com um menor extremismo (o que também não é difícil). Isto tudo com uma ressalva, acho que ele não é um bom documentarista. Parece estranho, não? Então eu gosto do trabalho de um homem que faz documentários e não o acho um bom documentarista? Eu explico...

No meu dicionário um documentário deve mostrar uma história e manter-se imparcial à mesma, ou - pelo menos - mostrar ambos os lados da questão e depois sim escolher um. O Michael Moore faz bons filmes mas, de acordo com essa minha definição, não é documentarista. Os filmes mostram um lado - o dele - e assemelham-se mais a cruzadas pessoais que a tentativas objectivas de mostrar injustiças sociais.

Dito isto, acho que este Sicko é provavelmente o filme dele que se mostra menos extremista (sem nunca deixar de o ser). Não sei se será por retratar uma questão que a meu ver é indiscutível (a necessidade de uma reforma do sistema de saúde americano) ou se por desta vez ter vários alvos e não só a administração Bush ou ainda se por ter optado por viajar por outras partes do mundo, mas achei este filme menos agressivo que os outros.

O tema, como disse, é o sistema de saúde norte-americano. Na parte inicial mostram-se algumas "histórias de horror" do sistema actual (como a do doente de cancro que teve o seu transplante de medula rejeitado por ser um "procedimento experimental"), na segunda compara-se o sistema capitalista americano com os sistemas "socializados" de outros países e, na terceira - a mais típica dele - leva alguns americanos a Cuba, para receberem tratamentos que são rejeitados nos EUA.

Enquanto via o filme senti-me várias vezes chocado, não percebo como é que um país dito desenvolvido pode rejeitar cuidar da saúde dos seus cidadãos por razões meramente económicas. Fez-me lembrar quando vivia em San Francisco: um colega meu, oriundo da República Checa, teve de ir tratar um dente e mesmo tendo seguro de saúde, o tratamento ficava-lhe mais barato se fosse passar um fim de semana a Praga, tratar do dente lá e voltar.

Choca-me sobretudo que actualmente o Obama queira alterar este status quo, mas que cerca de metade da população americana seja contra...com medos de socialismo ou seja lá o que for. O Michael Moore não é um bom documentarista, mas é um excelente espalha brasas, é importante pôr estes assuntos a público, iniciar discussões para provocar a mudança...

... mas escusadas eram cenas como aquela em que ele diz que enviou - anonimamente (?) - um cheque para o seu maior crítico.

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