Synechdoche, New York:
Estas são algumas das questões que vão passando pela cabeça de Caden Cotard. Casado com uma artista cada vez mais famosa, Caden sente-se pressionado para fazer algo de grandioso antes que a sua frágil vida acabe. É isso que decide fazer quando recebe um grande financiamento...em vez de encenar peças teatrais escritas por outros, Caden vai criar a sua obra-prima.
Essa obra-prima é, nada mais nada menos, que uma cópia à escala da sua própria vida. Caden é interpretado por um actor, e todos aqueles que se cruzam na sua vida terão um papel dentro daquela peça...a sua vida é encenada, mas a dada altura não se percebe se se está a assistir à encenação ou à realidade.
No fim, tudo acaba mal...a vida tem uma inevitabilidade, acaba em morte. E Caden apercebe-se disso demasiado cedo, a peça é pessimista por isso mesmo: pelo divórcio, pelo desaparecimento da filha, pelas relações falhadas e pela pressão de criar uma peça que, percebemos no fim, acaba por nunca ser encenada.
O que deixamos depois da nossa morte? O que fará com que os outros se recordem de nós? Seremos recordados pela grandeza do nosso trabalho?
Tudo se confunde - como é costume nos filmes do Charlie Kaufman (e, acreditem, este é o mais complexo de todos) - e damos por nós a tentar perceber quem é quem e o que é que aconteceu aos mais diversos personagens.
P.S.: Os parágrafos não parecem estar por ordem, certo? É propositado, assim percebem o que é ver este filme...está tudo trocado mas se se esforçarem um bocadinho conseguem chegar lá.
P.P.S.: O Charlie Kaufman é, sem dúvida, o argumentista mais original da nossa era. Adoraria vê-lo a colaborar com o David Lynch.
Inglourious Basterds:
"My name is Lt. Aldo Raine and I need me eight soldiers. Eight Jewish-American soldiers"
Os oito soldados judeus são os Inglourious Basterds, um grupo fictício mas que o Quentin Tarantino baseou em histórias que leu sobre a 2ª Guerra Mundial. Pelos vistos (e entende-se porquê), uma das piores ameaças que podia fazer a soldados alemães capturados era "vamos entregar-te ao nosso judeu". Pelo que li a violência era mais que muita.
Não deveria era ser tanto como a que é mostrada neste filme, com tacos de baseball à cabeça e escalpes a ser cortados, uma alegria! Mas, curiosamente, não consegui achar este filme tão violento assim. Já me tinham dito que era "abusado" mas não concordo...há violência, claro (é um filme do Tarantino, caramba!), mas o que mais me marcou foi o suspense de certas cenas.
Acho que é esse o maior mérito do filme, vende-se como um filme de porrada mas na verdade está mais próximo de um thriller...bastante desbragado mas um thriller ainda assim. Não me podem contradizer depois de verem a cena da cave, senti-me mesmo stressado para ver o que ia acontecer. Mas para além de thriller e de porrada, o filme também tem momentos bastante divertidos: o Brad Pitt a passar-se por italiano é hilariante.
Posso, aliás, dizer que o Brad Pitt e o Christoph Waltz (que faz de Hans Landa) são os pontos altos de um filme em que os personagens são interessantes mas não estão tão bem construidos como costumam ser nos filmes do Tarantino.
No geral, é um filme giro, bom entretenimento com umas boas referências cinematográficas, mas que, tal como o meu amigo André disse, está longe do (alto) nível que as obras iniciais do Tarantino atingiram.