sábado, 26 de setembro de 2009

Gake no ue no Ponyo

Gake no ue no Ponyo:



Em português chama-se Ponyo à Beira-Mar. É uma adaptação do Miyazaki da história da pequena sereia. A terra onde eles vivem fez-me lembrar "O marinheiro que perdeu as graças do mar" (um livro do Mishima). Deu-me sono. É giro. Não passa muito para além disso.

domingo, 20 de setembro de 2009

Los Abrazos Rotos + The Hurt Locker

Eu bem tento, mas não consigo mudar os hábitos. Lá vem mais uma dose dupla.


Los Abrazos Rotos:



Antes de escrever qualquer coisa mais pessoal devo dizer que sim, concordo com o crítico (já não me lembro qual) que dizia que este filme é muito de Almodóvar mas também tem uns pózinhos de Hitchcock.

Los Abrazos Rotos é, de facto, um filme muito almodovariano (?): tem as suas mulheres, as suas cores, os seus planos e - estranho! - até um dos seus filmes. Mas também é uma história menos próxima do que as que ele normalmente nos apresenta: aqui temos duplas identidades, obsessão sexual (que poderia ser almodovariana, mas é representada de uma forma diferente), crimes e confissões.

Sempre gostei muito dos filmes do Almodóvar, e sempre gostei muito dos filmes - para repetir a referência, que não é assim tão óbvia - do Hitchcock, por isso não foi nada difícil ter gostado deste. Ouso até dizer, e aqui já contra outras críticas que já li, que foi dos filmes dele que mais satisfeito me deixaram assim que as luzes do cinema se acenderam.

Personagens bem construídas, boas actuações, drama/suspense/comédia perfeitamente doseadas, imagens muito bonitas (aquelas estradas em Lanzarote!) fazem um excelente filme, este tem isso tudo.

P.S.: Curiosamente, o poster que meti neste post é das poucas coisas que não gostei no filme. Não podia ser perfeito, não é?


The Hurt Locker:



A seguir a um filme do Almodóvar, o que é que vem? Um filme de guerra, pois claro! Faz todo o sentido! (Não faz? Mas...pensei que fizesse...Que se lixe, não tem de fazer sentido!)
Segundo o que nos diz o nosso amigo IMDB "hurt locker" é o expressão dada pelos soldados americanos estacionados no Iraque ao estado de espírito que vivenciam depois de um momento traumático (serem atingidos por uma bala, morrer algum colega, etc.). É uma expressão interessante mas acho que não é o melhor título possível para o filme. Para mim esse título ideal seria a parte final desta citação, que aparece nos seus segundos iniciais:

"The rush of battle is often a potent and lethal addiction, for war is a drug."

Este filme segue a estadia do Sargento William James no Iraque, onde é colocado tendo como missão encabeçar um esquadrão de desmantelamento de bombas, cujo anterior líder morreu na primeira cena do filme. Ao contrário deste antigo líder, William James é um soldado temerário (irresponsável, a meu ver e na opinião dos seus colegas de equipa) que tem um real prazer em fazer o que faz.

É por isso que acho que "War is a Drug" seria um melhor (ou pelo menos mais adequado) título. Ao longo da estadia no Iraque e nas, curtas mas muito importantes, cenas de volta aos EUA percebemos que ele está viciado naquilo. Tem pouco mais que lhe dê ânimo, vida, energia. Acredito honestamente que assim seja, na realidade. Conheço alguns veteranos da guerra colonial e todos ainda vivem aquilo como se calhar nada mais na vida deles. É um bocadinho como o que eu senti quando vim da Disney World, tinha eu uns 10 anos: a Feira Popular de Lisboa nunca mais foi a mesma coisa. (Que comparação fantástica! Sou mesmo bom!)

Quanto ao filme em si. Está muito bem filmado, estilo documentário, mas se calhar por ter as expectativas altíssimas soube-me um bocado a pouco. Mas ainda hoje, dois dias depois de o ter visto, acho que vai ser daqueles filmes que de que vou gostando mais ao longo dos tempos.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

The Room


Atenção! Este post é muito especial! Esta é a SMR ao novo melhor pior filme de sempre!

O anterior titular desta honra era o Plan 9 from Outer Space, essa obra-prima do Ed Wood que nos apresenta discos voadores que na verdade são tampões de jantes presos por fios de nylon (que se vêem na tela) e que conta como protagonista o Bela Lugosi, que - milagre! - morreu antes das filmagens do filme. (O Ed Wood usou imagens de arquivo que tinha filmado e nas restantes cenas usou outra pessoa, que não se parece nada com ele, mas manteve o nome da sua estrela, por ser mais sonante)

Como é que tal filme pode ser superado, perguntam vocês? Ora, porque o The Room tem isto e muito mais! Vamos listar algumas das suas pérolas:

* Tem um personagem que aparece do nada, como se sempre lá estivesse, porque surge para substituir outra, cujo actor se demitiu a meio da produção
** Tem uma mãe a dizer que tem cancro na mama como quem diz que comprou o jornal e depois nunca mais fala nisso (e continua perfeitamente saudável)
*** Tem o Tommy Wiseau, realizador, produtor, argumentista e actor no filme. Para verem o nível do senhor há no fórum do IMDB um post que pergunta "Tommy Wiseau: foreign or retarded?". Eu aposto no retarded! (Vejam a foto dele no poster, ali em cima)
**** Tem a melhor mudança de assunto de sempre: Fala-se de negócios bancários e de repente solta-se a pergunta "Anyway, how's your sex life?"
***** Tem um apartamento (não um Room, que é outra coisa que não percebo...porquê este título?) em que a decoração consiste em fotografias de colheres de plástico.
****** Tem este diálogo:

Lisa: Do you want me to order a pizza?
Johnny: Whatever, I don't care.
Lisa: I already ordered a pizza.
Johnny: You think about everything, ha ha ha.
******* Tem tantas outras coisas, que só vendo é que se acredita.

Tudo isto parece estranho e muito mau. É estranho e muito muito mau, mas é tão mau que é bom. Merece ser visto por todos e estou tentado a organizar uma exibição em Lisboa. É tão mau que quero comprar o DVD. É tão mau que quero que façam um remake "shot by shot", como o Gus Van Sant fez com o Psycho e como já li que se fala em fazer (tal é o fenómeno de culto). É tão mau que ando obsessivamente à procura de informações sobre o filme...informações que justifiquem, por exemplo, como é que esta pérola teve um orçamento de 6 milhões de dólares ou qual é a origem do Wiseau, cujo sotaque e qualidade de actuação faz com que o Van Damme pareça um actor do método. (A melhor teoria, by the way, é que ele ganhou o dinheiro enquanto mercenário na Bósnia).

Serviço publico era mostrar este filme em todas as escolas e locais de trabalho do país. A crise terminaria, ou pelo menos o pessoal ficava mais bem disposto.


P.S.: Se forem ver o trailer a dada altura dizem que é uma "black comedy". É importante que saibam que o filme foi filmado como algo sério, a parte da comédia é a estratégia de marketing que está a tentar aproveitar o culto à volta do filme. Este filme, hilariante, não é uma comédia!!!

domingo, 13 de setembro de 2009

Public Enemies

Public Enemies:



John Dillinger foi considerado por muitos o apogeu do assaltante de bancos, precisamente nos "anos de ouro" dessa prática tão bonita e respeitável. Por isso, um filme sobre ele, realizado pelo senhor responsável por um dos melhores filmes de assaltos que já vi (falo do Heat) estava alto na minha lista de prioridades.

Demorei um bocado até o conseguir ver, mas lá foi desta e venho satisfeito com o que vi.

Já conhecia um bocadinho da história do Dillinger por causa de uma banda que me agrada bastante e que tem o seu nome, mas desta vez fiquei a saber mais sobre a sua vida e não só o seu plano de fuga (de certeza que há pessoal que vai perceber a referência, quanto aos outros...temos pena). Partindo do princípio que o que é retratado é realista (tirando alguns exageros, como a ida à esquadra, que já li ser um exagero criativo) o homem tinha um estilo do caraças a fazer o que fazia, pelo que não é assim tão estranho ter sido idolatrado numa América em Depressão e onde (quase) todos se sentiriam tentados a seguir o seu exemplo.

Um personagem tão estiloso só podia ser interpretado pelo actor mais cool da nossa geração, o Johnny Depp, claro. A sua interpretação é um dos pontos altos do filme, mas não é a única: também gostei muito do Christian Bale e da Branka Katic. A Marion Cotillard é que não me deixou grande fã; não vi o La môme (pelo qual ela ganhou o Óscar de melhor actriz) mas neste filme a interpretação dela deixou-me mais irritado que empático, e julgo que não seria isso o pretendido.


P.S.: Não percam a SMR, muito em breve, sobre o melhor pior filme de sempre. Vou tentar fazer-lhe justiça!

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Synechdoche, New York + Inglourious Basterds

Synechdoche, New York:



Estas são algumas das questões que vão passando pela cabeça de Caden Cotard. Casado com uma artista cada vez mais famosa, Caden sente-se pressionado para fazer algo de grandioso antes que a sua frágil vida acabe. É isso que decide fazer quando recebe um grande financiamento...em vez de encenar peças teatrais escritas por outros, Caden vai criar a sua obra-prima.

Essa obra-prima é, nada mais nada menos, que uma cópia à escala da sua própria vida. Caden é interpretado por um actor, e todos aqueles que se cruzam na sua vida terão um papel dentro daquela peça...a sua vida é encenada, mas a dada altura não se percebe se se está a assistir à encenação ou à realidade.

No fim, tudo acaba mal...a vida tem uma inevitabilidade, acaba em morte. E Caden apercebe-se disso demasiado cedo, a peça é pessimista por isso mesmo: pelo divórcio, pelo desaparecimento da filha, pelas relações falhadas e pela pressão de criar uma peça que, percebemos no fim, acaba por nunca ser encenada.

O que deixamos depois da nossa morte? O que fará com que os outros se recordem de nós? Seremos recordados pela grandeza do nosso trabalho?

Tudo se confunde - como é costume nos filmes do Charlie Kaufman (e, acreditem, este é o mais complexo de todos) - e damos por nós a tentar perceber quem é quem e o que é que aconteceu aos mais diversos personagens.


P.S.: Os parágrafos não parecem estar por ordem, certo? É propositado, assim percebem o que é ver este filme...está tudo trocado mas se se esforçarem um bocadinho conseguem chegar lá.
P.P.S.: O Charlie Kaufman é, sem dúvida, o argumentista mais original da nossa era. Adoraria vê-lo a colaborar com o David Lynch.


Inglourious Basterds:



"My name is Lt. Aldo Raine and I need me eight soldiers. Eight Jewish-American soldiers"

Os oito soldados judeus são os Inglourious Basterds, um grupo fictício mas que o Quentin Tarantino baseou em histórias que leu sobre a 2ª Guerra Mundial. Pelos vistos (e entende-se porquê), uma das piores ameaças que podia fazer a soldados alemães capturados era "vamos entregar-te ao nosso judeu". Pelo que li a violência era mais que muita.

Não deveria era ser tanto como a que é mostrada neste filme, com tacos de baseball à cabeça e escalpes a ser cortados, uma alegria! Mas, curiosamente, não consegui achar este filme tão violento assim. Já me tinham dito que era "abusado" mas não concordo...há violência, claro (é um filme do Tarantino, caramba!), mas o que mais me marcou foi o suspense de certas cenas.

Acho que é esse o maior mérito do filme, vende-se como um filme de porrada mas na verdade está mais próximo de um thriller...bastante desbragado mas um thriller ainda assim. Não me podem contradizer depois de verem a cena da cave, senti-me mesmo stressado para ver o que ia acontecer. Mas para além de thriller e de porrada, o filme também tem momentos bastante divertidos: o Brad Pitt a passar-se por italiano é hilariante.

Posso, aliás, dizer que o Brad Pitt e o Christoph Waltz (que faz de Hans Landa) são os pontos altos de um filme em que os personagens são interessantes mas não estão tão bem construidos como costumam ser nos filmes do Tarantino.

No geral, é um filme giro, bom entretenimento com umas boas referências cinematográficas, mas que, tal como o meu amigo André disse, está longe do (alto) nível que as obras iniciais do Tarantino atingiram.