Gran Torino:
Imaginem um ex-combatente da Guerra da Coreia a viver no meio de um bairro de orientais. Imaginem-no a ficar viúvo, sozinho, no tal bairro de orientais. Agora adicionem-lhe o facto do tal senhor ser um dos homem naturalmente zangado. Claro que só podia dar em más relações!
É assim que o filme começa...Walt Kowalski (o derradeiro personagem interpretado pelo Clint Eastwood) é um dos homens mais azedos que já apareceram numa tela de cinema, mesmo com os filhos e com os netos ele não consegue estabelecer uma relação humana, não fala...quase que rosna. E se é assim com a família ainda mais o é com os vizinhos hmong (um povo originário do Laos/Vietname) os quais passa o tempo a insultar...
...até que o no seu ódio pelos vizinhos salva a vida a um deles. A partir daí a família (do vizinho - Thao) resolve agradecer-lhe através de oferendas e da disponibilização do rapaz para o ajudar trabalhando gratuitamente. A partir daí trata-se de uma história que poderia ser bastante banal: Walt passa do ódio para a simpatia (quando o começa a conhecer) e daí para uma relação masculina que o rapaz tanto precisa (já que vive apenas com a mãe, irmã e avó).
Felizmente o que poderia ser banal é muito bem tratado. A relação entre Walt e Thao, e entre Walt e a restante família hmong é desenvolvida em momentos de imensa cumplicidade, carinho e até humor: de sublinhar a aula sobre como falar com o barbeiro. Walt passa de besta a bestial e conseguimos ver nele uma humanidade que se pensava perdida.
Tirando a forma como ele começa a introduzir-se na família hmong - o que me pareceu bastante improvável - gostei muito do filme. Um especial destaque para os dois irmãos...actores amadores que passaram a prova de contracenar com o Clint Eastwood (talvez o maior mito do cinema americano actual) com toda a distinção.
E a realização...uma prova de como simples é bom. De como só precisamos de uma boa (e simples) história e uns bons (e simples) planos para se conseguir um bom (e não muito simples) filme.