Dark Shadows:
Há algo que não funciona em Dark Shadows, o mais recente filme do Tim Burton. A história de Barnabas Collins nunca teria qualquer valor intelectual dado o material adaptado, mas confesso que esperava divertir-me mais.
Dark Shadows é o nome de uma telenovela americana dos anos 70 que conta a história de uma familia do Maine que, entre milhentos problemas típicos das familias de telenovela, tem a particularidade de ser liderada por um vampiro. Teve a duração de 5 anos (bem mais que muitas séries de qualidade de hoje em dia) mas no fundo não passa uma novela que quase ninguém conhecia antes desta adaptação cinemática. Teve a sorte de ser vista por um jovem Johnny Depp e um jovem Tim Burton, que na altura não se conheciam mas decerto passaram tardes sem escola a ver televisão de má qualidade.
Sim, porque aparentemente Dark Shadows a novela caía naquela tão ténue categoria do tão mau que é bom. Eu confesso que nunca me dei ao trabalho de ver um minutito que seja no Youtube mas pelo que tenho lido as interpretações e os efeitos especiais estariam ao nível de um Plan 9 from Outer Space.
A adaptação de Tim Burton resolveu esquecer essa característica essencial. Os efeitos especiais são (propositadamente?) esquisitos mas nunca maus - quando era maus que se pedia - e as interpretações vão pela mesma onda: o Johnny Depp continua a ser o maior mesmo quando quer dar ao seu Barnabas Collins toques de surrealidade (não) propositada e o restante elenco é completamente acessório.
Agora que penso nisso, é precisamente isto que não funciona em Dark Shadows, a gigantesca diferença de tratamento entre Barnabas Collins e todos os outros personagens. Imagino que houvesse a vontade de homenagear no cinema todas as míticas figuras da novela mas uma vez que aqui se tem apenas duas horas o tiro sai pela culatra: no início somos apresentados aos membros restantes da família Collins (incluindo a Michelle Pfeiffer, que já não aparecia há que tempos) , mas logo de seguida é-lhes retirado tempo de antena e a história foca-se em Barnabas e em Angelique (Eva Green, num papel que devia ser da Anne Hathaway), a bruxa que rogou a praga àquela família, há mais de 200 anos. E essa história não tem interesse nenhum.
Tivesse Tim Burton optado por explorar os anacronismos entre um vampiro com 200 anos e o estilo de vida hippie dos anos 70, como fez nos primeiros minutos da história, e a avaliação final deste filme seria decerto melhor. Assim, focando-se acima de tudo numa história de amor eterno não correspondido, as gargalhadas vão desaparecendo e começam a chegar os bocejos. É por esta falta de pontaria que não tenho grandes dúvidas que este Tim Burton, o pior que já vi deste excelente realizador, irá sofrer o mesmo destino que a novela em que se inspira: condenado ao esquecimento até que daqui a umas décadas alguém se lembre de fazer um remake.
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