quarta-feira, 30 de maio de 2012

The Dictator

The Dictator:


Acabou-se o estado de graça para Sacha Baron Cohen. Uso propositadamente este termo típico da democracia (e do futebol) para avaliar o seu último filme, sobre um ditador de um país fictício no Nordesde Africano (onde na realidade fica a Eritreia) que se desloca a Nova Iorque para, perante as Nações Unidas, tentar convencer a comunidade internacional de que o seu programa nuclear tem fins meramente pacíficos.

So far so good, não? Um tema bastante comum - tantas vezes já ouvimos esta conversa sobre o Irão ou a Coreia do Norte - analisado de uma forma cómica poderia ser uma boa base para o criador de Borat.

Pois a ideia de fundo pode ser boa mas depois é preciso substância para que as histórias se desenvolvam e neste caso a ideia parece ter sido meter todas as piadas politicamente incorrectas que os argumentistas se lembraram, na ordem pelas quais eles se lembraram delas. Assim, temos as constantes referências ao assassínios de todos os que não agradam ao Major General Aladeen, os pobretanas que vivem nas montanhas e têm sexo com cabras, a misoginia, os colectivos anarco-feministas vegan liderados por uma mulher com pelos no sovaco e por aí em diante.

E agora vêm os membros da brigada anti-PC dizer que eu sou da brigada-PC (politicamente correcto, não Partido Comunista), mas a verdade é que não me senti por uma única vez chocado com as piadas. Considero que tenho inteligência suficiente para entender o humor em situações que à partida poderiam não o ter, mas é preciso que o humor seja de qualidade e não esta mescla de piadas que - estando acima dos Malucos do Riso - não passam a fasquia de um filme do Adam Sandler.

Sacha Baron Coen é um homem inteligente e merece a fama que tem. Há mais de 10 anos que pega em estereótipos e desconstrói-os com piada, mas ao contrário das suas anteriores criações a ter espaço no cinema, o General Major General Aladeen parece ter sido criado à pressa para extrair mais uns milhões do pessoal que ainda vai ver os filmes dele. Eu era uma dessas pessoas mas, como disse, o estado de graça que lhe dei acabou.

Não quer isto dizer que esteja tudo perdido. Consegui rir-me umas 4 ou 5 vezes durante o filme (uma delas devido à constante torrente de insultos à personagem de Anna Faris, estranhamente parecida com o Patton Osswalt) e hei de continuar a prestar atenção aos seus futuros projectos, mas espero sinceramente que as piadas voltem a ser mais inteligentes. Na história cinemática dos ditadores cómicos, o que pouco fala e é a preto e branco ganha claramente a guerra àquele que precisa de barulho e cores berrantes para chamar a atenção.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Tropa de Elite 2 - O inimigo agora é outro

Tropa de Elite 2 - O inimigo agora é outro:



Pobreza, droga, crime, violência policial, corrupção. Estas são algumas das realidades transmitidas para o "mundo exterior" pela grande maioria dos filmes brasileiros. Tropa de Elite 2 - O inimigo agora é outro não é uma excepção a essa regra, relatando-nos a história de um polícia transformado em político que luta contra a corrupção tanto na polícia como na política.

O inimigo agora é outro, diz-nos o subtítulo do filme e com razão. O protagonista é o mesmo do filme original: Nascimento, capitão no primeiro filme e agora promovido a tenente-coronel; o realizador é o mesmo (José Padilha, que também co-escreveu o argumento dos dois filmes) e muitos dos personagens secundários que sairam vivos do primeiro voltam a aparecer. A grande diferença mesmo, é que no primeiro filme falava-se da luta do BOPE (forças especiais do exército brasileiro) contra a droga e no segundo fala-se da luta de um "caveira" contra o sistema instalado.

Devo confessar que não me recordo bem das minhas opiniões sobre o primeiro filme e infelizmente na altura em que o vi ainda não escrevia aqui. No entanto, se bem me lembro a impressão com que fiquei foi a de que se tratava de mais um filme da nova vaga de cinema brasileiro que surgiu no pós-Cidade de  Deus. Esta sequela afasta-se um pouco dessa escola e aproxima-se mais de um qualquer thriller americano. Com as devidas diferenças, o filme que me veio à mente foi o The Insider e vou já explicar porquê

A luta do tenente-coronel Nascimento é solitária. A dada altura tem a ajuda de amigos, colegas e até inimigos mas a luta é sempre sua e o filme sofre um pouco com isso. Toda a história é contada da sua perspectiva (sendo inclusivamente narrada por Wagner Moura, actor que faz de Nascimento), o que impossibilita a história de se afastar um pouco e deixar-nos perceber as coisas melhor. Um bom exemplo disso é a sub-história do Major Rocha e de como passou a controlar as favelas...se calhar fui eu que fui burro mas não percebi como é que ele chegou a essa situação de poder.

Felizmente essa é uma falha menor num filme que nos prende do princípio ao fim com a sua intensidade. A história de Nascimento é levemente inspirada numa pessoa real e em nenhum momento consideramos que os eventos do filme são impossíveis. O seu final é aberto, como infelizmente o serão muitos casos que serviram de inspiração para esta história: na luta contra a corrupção generalizada uma pessoa honesta pode vencer algumas batalhas, mas continuarão a faltar muitas mais até que se ganhe a guerra.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Dark Shadows

Dark Shadows:



Há algo que não funciona em Dark Shadows, o mais recente filme do Tim Burton. A história de Barnabas Collins nunca teria qualquer valor intelectual dado o material adaptado, mas confesso que esperava divertir-me mais.

Dark Shadows é o nome de uma telenovela americana dos anos 70 que conta a história de uma familia do Maine que, entre milhentos problemas típicos das familias de telenovela, tem a particularidade de ser liderada por um vampiro. Teve a duração de 5 anos (bem mais que muitas séries de qualidade de hoje em dia) mas no fundo não passa uma novela que quase ninguém conhecia antes desta adaptação cinemática. Teve a sorte de ser vista por um jovem Johnny Depp e um jovem Tim Burton, que na altura não se conheciam mas decerto passaram tardes sem escola a ver televisão de má qualidade.

Sim, porque aparentemente Dark Shadows a novela caía naquela tão ténue categoria do tão mau que é bom. Eu confesso que nunca me dei ao trabalho de ver um minutito que seja no Youtube mas pelo que tenho lido as interpretações e os efeitos especiais estariam ao nível de um Plan 9 from Outer Space.

A adaptação de Tim Burton resolveu esquecer essa característica essencial. Os efeitos especiais são (propositadamente?) esquisitos mas nunca maus - quando era maus que se pedia - e as interpretações vão pela mesma onda: o Johnny Depp continua a ser o maior mesmo quando quer dar ao seu Barnabas Collins toques de surrealidade (não) propositada e o restante elenco é completamente acessório.

Agora que penso nisso, é precisamente isto que não funciona em Dark Shadows, a gigantesca diferença de tratamento entre Barnabas Collins e todos os outros personagens. Imagino que houvesse a vontade de homenagear no cinema todas as míticas figuras da novela mas uma vez que aqui se tem apenas duas horas o tiro sai pela culatra: no início somos apresentados aos membros restantes da família Collins (incluindo a Michelle Pfeiffer, que já não aparecia há que tempos) , mas logo de seguida é-lhes retirado tempo de antena e a história foca-se em Barnabas e em Angelique (Eva Green, num papel que devia ser da Anne Hathaway), a bruxa que rogou a praga àquela família, há mais de 200 anos. E essa história não tem interesse nenhum.

Tivesse Tim Burton optado por explorar os anacronismos entre um vampiro com 200 anos e o estilo de vida hippie dos anos 70, como fez nos primeiros minutos da história, e a avaliação final deste filme seria decerto melhor. Assim, focando-se acima de tudo numa história de amor eterno não correspondido, as gargalhadas vão desaparecendo e começam a chegar os bocejos. É por esta falta de pontaria que não tenho grandes dúvidas que este Tim Burton, o pior que já vi deste excelente realizador, irá sofrer o mesmo destino que a novela em que se inspira: condenado ao esquecimento até que daqui a umas décadas alguém se lembre de fazer um remake.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

É na Terra, não é na Lua

É na Terra, não é na Lua:


Ilha do Corvo, Arquipélago dos Açores, Portugal. Uma única vila, fundada há 490 anos. População actual: 430 habitantes. O verdadeiro ponto mais Ocidental da Europa, quase tão longe de Lisboa como Berlim. O Município mais masculino do país, com 126 homens para cada 100 mulheres.

É esta a base de trabalho para o mais recente documentário de Gonçalo Tocha, que tem vindo a receber prémios e mais prémios desde que se estreou (como filme vencedor) no DocLisboa 2011. É um filme longo e lento, mas por isso funciona tão bem...adapta-se ao ritmo da ilha que se propôs a documentar e, como bom documentário, não impõe o seu ritmo àqueles que filma.

Sim, porque este filme é muito mais sobre os corvinos (gentílico dos habitantes deste paraíso perdido) que sobre a ilha que os acolhe. Ao longo das suas três horas é-nos dada a conhecer a estrutura da Vila do Corvo, o caldeirão que tão bem define a natureza vulcanica da ilha ou algumas das suas enseadas, mas não haja dúvidas que as verdadeiras estrelas são a Sra. Inês Inêz e os restantes habitantes da ilha.

As suas profissões, o seu artesanato, as suas lendas, o seu passado e as suas esperanças para o futuro são alguns dos temas que o realizador resolveu documentar. A tradição da Nossa Sra. dos Milagres passar 24h em casa de cada um dos habitantes, o facto das eleições terem 1/3 da população como candidatos elegíveis ou a história do veleiro que ali chegou sem ninguém ao comando são pedaços de história que merecem ser preservados e, felizmente, assim o foram através da câmara de Gonçalo Tocha.

Invejo-o por ter tido essa ideia, eu que há anos que nutro uma paixão pouco saudável por ilhas remotas nunca tinha colocado a hipótese de explorar o mais remoto que há no meu país. É na Terra, não é na Lua fez-me despertar o interesse por essa ilha e não foram poucas as vezes que referi "tenho de lá ir antes de morrer" enquanto via o filme.

"OK, mas eu não tenho propriamente interesse em ilhas remotas do Atlântico Norte, será que este filme é para mim?" perguntarão vocês. Sim, é a minha resposta...partindo do pressuposto que se lêem este blog é porque têm alguns interesses em comum com este vosso escriba, acredito que por muito pouco interesse que tenham em pequenos pedaços de terra no meio do imenso mar terão curiosidade em conhecer um pequeno ponto de Portugal - do mundo - que não conhecerão melhor a menos que visitem a ilha em primeira mão.

Este trabalho de Gonçalo Tocha tem - acima de tudo o resto - esse grande mérito. Mais que um trabalho artístico É na Terra, não é na Lua é um testemunho sociológico de uma ilha cuja memória escrita é praticamente inexistente. Não acharia muito estranho que daqui a umas gerações o Corvo seja uma ilha desabitada (já teve 900 habitantes - mas, em abono da verdade, também já teve 300) e este filme será provavelmente o testemunho definitivo dos homens e mulheres que no século XXI, falando a mesma língua, cantando o mesmo hino e sofrendo o mesmo que eu pela selecção nacional, têm uma vida incrivelmente diferente da minha. E é tão bom agora conhecê-la melhor!

sábado, 12 de maio de 2012

Informação

Este blog não está morto.

Por incrível que pareça, estou há 6 meses à espera que a internet seja instalada no meu apartamento. Como agora não tenho tempo para ir para o McDonald's/Starbucks usar a net à borla - como fiz desde Outubro - as SMR estão "congeladas" até que as possa escrever em casa.

Consta que tal instalação terá lugar na próxima semana, mas também me disseram isso em Fevereiro, por isso não sei.

Até lá vejam muitos filmes, que eu hei de voltar com muitas SMR.