Koi ni itaru yamai:
Todas as expressões que se seguem descrevem parcial mas correctamente Koi ni itaru yamay:
- criança que se alimenta exclusivamente de comprimidos;
- stalker que persegue um homem mais velho;
- professor de liceu leva aluna para sua casa, onde a chega a amarrar;
- jovem invade quarto de colega de escola para lhe cheirar as cuecas;
- sexo entre um adulto e uma criança;
- dois transsexuais;
- lesbianismo adolescente.
Sim, posto desta forma Koi ni itaru yamay tem tudo para resvalar para terrenos muito desagradáveis mas por milagre ou - mais provavelmente - por um bom trabalho da realizadora/argumentista Kimura Shoko estes tópicos todos são abordados não num drama pesadíssimo, nem num filme porno de legalidade duvidosa mas sim maioritariamente através da comédia.
E enquanto é comédia este filme japonês é mesmo muito bom. Talvez por saber que não tinha um tema nada fácil entre mãos a opção foi torna-lo numa espécie de manga com imagem real em que os personagens e em particular a protagonista são representados de uma forma cartoonesca.
Tsubara está apaixonada pelo seu tímido professor de biologia e através da excelente representação de Wagatsuma Miwako quase conseguimos ver os seus olhos a assumir forma de coração enquanto sorri parvamente. Já o professor Madoka (Saito Yoishiro) é caricaturalmente tímido e tem horror ao contacto inter-pessoal. En (Satsukawa Aimi) é uma rapariga mais experiente sexualtmente que, em consequência, é completamente fria e impessoal excepto com Tsubara, por quem está apaixonada e que constantemente tem de lidar com os ímpetos de Maru (Sometani Shota), seu fã assumido.
São estes os únicos quatro intervenientes de uma história em que o melhor é desligar a parte lógica do cérebro e deixar-nos levar pelo que se vai passando. Aparentemente os jovens não têm pais, o professor não tem mais nada que fazer e ... uma relação sexual faz com que, magicamente, os parceiros troquem de órgãos sexuais. É um filme para todos? Nem pensar, e não estranhei a quantidade de gente que saiu a meio, mas se gostam do vosso humor politicamente incorrecto e tão estranho como o Matthew's Best Hit TV então conseguir divertir-se.
Infelizmente dá ideia que a meio das filmagens a realizadora mudou de opinião e ligou o botão da seriedade. A ideia base do filme continua a ser a mesma, um glorioso disparate que serve de véu a situações normalmente horrendas, e por isso mesmo a tentativa de reflectir um pouco sobre aquela história torna o filme demasiado longo e maçador. Se se tratasse qualquer um dos tópicos que referi acima de forma autónoma então um drama seria o único estilo adequado mas quando num só período de duas horas tudo aquilo acontece só mesmo com a efeitos sonoros tipo jogo da Super Nintendo é que a coisa lá vai.
No final de contas dou-lhe o meu louvor. Pelo risco que tomou em abordar temas tão pesados de uma forma leve e divertida Koi ni itaru yamay é um exercício de funambulismo que duvido que alguma vez vá ter sucesso comercial fora do Japão (no Japão tudo é possível) mas que para um público de festival que queira descansar a cabeça entre duas sessões mais pesadas é um filme a considerar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário