Enter the Void começa muito bem! Tem provavelmente a melhor sequência de créditos iniciais desde o Catch Me If You Can e com essa sequência consegue pôr-nos em sentido, preparar-nos mentalmente para o que aí vem. Ou, com muita pena minha, o que seria bom que viesse.
Depois dessa sequência de créditos muito acima da média (mas que, devo avisar, não é nada amiga de epilépticos) acordamos em Tóquio. E quando digo acordamos refiro-o literalmente, uma vez que é Oscar (Nathaniel Brown, num papel ingrato - já vão perceber porquê) que acorda, no apartamento que divide com a irmã, na capital japonesa. E quando ele acorda nós acordamos com ele, pois durante a primeira meia hora do filme somos Oscar; vemos tudo na sua perspectiva (o plano é continuamente subjectivo), vemos o que ele vê, piscamos os olhos quando ele pisca os olhos e tripamos com drogas quando ele o faz também (numa sequência que me fez lembrar o ponto mais controverso do The Tree of Life, mas em muito menos interessante).
Oscar é consumidor de drogas (a trip que testemunhamos é de DMT), percebemos logo; a sua irmã não gosta disso, também rapidamente o percebemos; o que não sabemos quase de início é que para além de consumidor Oscar também vende droga e que por causa disso os seus olhos vão levar-nos até ao The Void, um bar onde tudo muda.
Muda na vida de Oscar e muda no filme, porque se até ali a coisa estava a resultar bem a partir dali (e são quase duas horas depois dessa ida ao The Void) depois disso dei por mim a lutar aguerridamente contra a tentação de desligar o DVD e ir fazer algo mais útil como dormir, ler ou olhar para uma parede a ver a tinta a secar. Se até esse momento acompanhamos Oscar, depois iremos observar as consequências dessa entrada no The Void (já perceberam o título?), tanto em Oscar como naqueles que com ele estão relacionados.
Gaspar Noé, o realizador, já provou que gosta muito de inovar visualmente. É dele um dos filmes mais polémicos da década passada, o Irréversible, uma obra à qual - no meio de toda a polémica - não se deu o devido valor às suas opções visuais. Aqui será impossível não reparar o aspecto visual: vejam o poster do filme...é essa a estética de grande parte do que poderão ver, altamente psicadélico. É uma estética interessante, baseada com toda a certeza no mundo de neons que deve ser a noite de Tóquio e não vai ser por aqui que alguém pegará neste filme para o criticar. O problema é mesmo a falta de foco.
Durante as quase duas horas que se passam depois da entrada de Oscar no The Void andamos a saltitar de um lado para o outro, testemunhando de forma quase voyeuristica (e com uma câmara que não pára quieta, ao estilo da cena inicial do Irréversible) pequenos momentos da vida de todos os personagens que conhecemos através do corpo que habitamos inicialmente. Poderia ser uma ideia interessante (eu cá penso que a ter de continuar teria sido melhor continuar com o estilo inicial) mas é dddeeemmmaaasssiiiaaadddooo lllooonnngggooo eee aaabbbooorrreeeccciiidddooo.
Imaginem que eu escrevia este post todo assim, carregando três vezes em cada tecla...o texto seria muito mais longo e se eu fosse pago para fazer este blog provavelmente até me pagavam mais, mas não tornava a SMR mais interessante, antes pelo contrário. É por isso que, por essa parte final, Enter the Void tem direito a tornar-se mais um exemplo para a lista de longas que deveriam ser curtas. Os 120 minutos finais destruiram completamente a vontade que tinha de elogiar os 30 iniciais.
Também senti quase o mesmo sobre este filme quando o vi há alguns meses
ResponderExcluirMesmo! A dada altura já me estava a fritar...nunca me custou tanto a minha política de não deixar filmes a meio.
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