A 1 de Maio de 1994 fui ao cinema com o meu pai, às Amoreiras, ver um filme que não me recordo qual foi. Quando saí, olhei para as televisões de um café que existia junto às salas 1, 2 e 3 e vi imagens em directo da RTP. Naquele tempo a Formula 1 ainda passava em canal aberto e nesse dia as imagens não eram belas, como costumam ser nas corridas de automóveis. Passava naquela televisão a imagem de um carro da Williams Renault completamente desfeito e eu, que na altura seguia atentamente esse desporto, pensei para comigo mesmo "Fogo, o Damon Hill não pode ter ficado bem". Pensei-o porque nunca imaginei que o Ayrton Senna, piloto principal da equipa e meu ídolo na altura, pudesse sofrer acidentes daqueles.
Passados uns minutos fui para o carro e foi na rádio (TSF, que ainda hoje oiço) que me deram a má notícia: o tal acidente que tinha desfeito o Williams Renault tinha acontecido ao Ayrton Senna e ele estava pior do que mal, estava morto. Lembro-me que quando cheguei a casa, ao voltar a ver as imagens, chorei. E quase no final deste filme quase que chorei de novo.
Senna, documentário de Asif Kapadia, leva-nos numa viagem à carreira daquele que ainda hoje considero o melhor piloto de Formula 1 de sempre, desde os seus inícios nos Kart até àquele malfadado fim de semana onde para além de Senna morreu o piloto Roland Ratzenberger e o Rubens Barrichello e mais uns quantos espectadores, atingidos por um pneu que saltou de um carro, ficaram gravemente feridos.
Referi mais acima que o Senna era o meu ídolo na altura (sim, por volta dos 11 anos ainda tinha sonhos de chegar a piloto da Williams, como ele) mas não era só ídolo de um puto português...era-o para toda uma nação que, vivendo numa miséria que hoje já conseguiu em grande medida superar, via no futebol e naquele piloto maravilha um motivo de orgulho para se ser brasileiro. Por este motivo fico contente por o realizador não ser brasileiro (é inglês, de origem indiana), caso contrário poderia haver uma tentativa de endeusamento de Senna, que não existe aqui.
É verdade que não o pintam como o mau da fita, esse papel cabe inteiramente ao Alain Prost, com quem Senna teve uma enorme rivalidade durante a sua carreira. Através de Prost e de Jean-Marie Balestre, francês presidente da FIA na altura, que vemos a importância da política na Formula 1...Prost tinha de ganhar e, no Grande Prémio do Japão de 1989 o título foi-lhe dado de uma forma que ainda hoje é criticada por muitos pilotos e dirigentes. O filme podia ficar-se por aí mas não fica, e mostra-nos que no ano seguinte, outra vez no Grande Prémio do Japão, o Senna fez o oposto e ganhou o campeonato de uma forma não muito leal: "either win or forget it", como o ouvimos dizer no início do filme.
Mas Senna, o filme, é muito mais do que uma retrospectiva da sua carreira (apesar de ter imagens fabulosas, para aqueles que gostam de automobilismo). Kapadia foca-se muito nos bastidores, mostrando imensas entrevistas aos pais, a outros pilotos que competiram com ele e a um dos grandes amigos de Senna no desporto, Sid Watkins, chefe de medicina da Formula 1 e a pessoa responsável pelas tentativas de reanimação quando Senna morreu.
Nem as imagens nem nenhum dos testemunhos ouvidos nos dão respostas quanto ao que se passou na curva de Tamburello, na volta número 7 do Grande Prémio de San Marino de 1994, mas enquanto via a última volta feita por Senna sempre na perspectiva do seu cockpit foi-me muito difícil não me emocionar como me emocionei no dia em que aconteceu. Mas a mais sabendo que Senna tinha no seu corpo a bandeira da Áustria, país de Ratzenberger, planeando desfraldá-la em sua homenagem caso vencesse a corrida.
Desde esse dia nunca mais morreu ninguém na Formula 1.
E viste o documentário onde? Cinema ou em casa?
ResponderExcluirVi em casa. Sempre que possível vejo no cinema (cinema é no cinema!) mas tendo em conta que já estreou há bué noutros países e não tem data de estreia prevista em Portugal...
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