Avaliar um documentário é mais difícil que avaliar ficção, mesmo quando só se diz disparates como eu. É que de tempos a tempos lá vem um daqueles filmes que parece não ter qualquer "factor de redenção" mas que ainda assim tem algum interesse.
Este Congo in Four Acts é um desses casos: nenhum dos seus 4 actos (Ladies in Waiting, Symphony Kinshasa, Zero Tolerance e After the Mine) tem uma temática daquela que nos enchem as medidas. Já vou dizer quais as histórias, mas por agora fica a informação de que são 4 curtas de 4 realizadores congoleses que foram editadas para que se tornassem apenas uma longa.
Quando digo editadas quase tenho de me rir, porque para mim colocar um separador preto com letras brancas entre os filmes sem explicar minimamente o contexto do filme, sem haver algo que se pareça com um narrador e sem haver o mínimo fio condutor não me parece tanto um trabalho de edição como o que na realidade é - utilizar o copy/paste não no Word mas no iMovie.
É assim que caímos em Ladies in Waiting, a primeira das curtas, verdadeiramente de pára-quedas numa maternidade de uma cidade que não é em Kinshasa mas que também não nos é explicado onde é. Aqui o que é interessante ver é o facto de a maternidade aceitar pagamentos em espécie (i.e., deixar os brincos ou a televisão) e o prender as mulheres lá dentro enquanto não pagam as contas.
É assim que caímos em Symphony Kinshasa, o pior dos filmes (já que nem dentro do próprio filme tem o tal fio condutor) mas que tem como mensagem mostrar as quantidades absolutamente gigantescas de lixo que poluem as ruas de Kinshasa e os efeitos das frequentes cheias da cidade.
É assim que caímos em Zero Tolerance, o melhor dos filmes, uma espécie de Cops à congolesa, em que seguimos uma agente da polícia enquanto ela tenta resolver dois crimes que não aconteceriam nos EUA (daí nunca irem aparecer no Cops) dois jovens de 13 anos que violaram e espancaram uma senhora alcoolizada supostamente "para a obrigarem a ir para casa descansar" e outro que - segundo a vítima - violou uma senhora idosa que, segundo o acusado, apenas a estava a proteger, apesar de ser bruxa e lhe querer matar a família toda.
É, finalmente, assim que caímos em After the Mine, em que vemos como a população que sobrou após o encerramento de uma importante mina diamantífera vai sobre vivendo, mas sempre com recurso à única técnica de realização que os realizadores parecem conhecer: ligar a câmara e ouvir as pessoas falar. Este método, de parecer que apenas se ligou a câmara, funciona bem quando a edição e montagem são bem feitas, aqui não.
Nenhum deles tem grande interesse, mas apesar de tudo fiquei satisfeito por através deles ver a realidade de um país onde creio que nunca irei. Também me deu para reflectir um pouco sobre as minhas ideias quanto à ajuda ao desenvolvimento (já tenho um livro sobre o assunto na minha lista de leituras e tudo) mas vou poupar-vos ao sofrimento e não vou expor as minhas ideias aqui, não hoje.
Se quiserem voltar a ver este filme no Doc Lisboa basta deslocarem-se ao Londres dia 17 às 16h30 ou dia 23 às 22h30.
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